Raio X, desafios e oportunidades do mercado de alimentação fora do lar 10 de outubro de 2013

Raio X, desafios e oportunidades do mercado de alimentação fora do lar

         

Classe C, crescimento fora do eixo Rio-São Paulo e vida corrida influenciam comportamento. Pelo menos três vezes por semana, 35% se alimentam fora do lar diz levantamento

Publicidade

Os brasileiros têm feito mais refeições fora de casa. O surgimento de novos consumidores da Classe C, o crescimento das cidades fora do eixo Rio-São Paulo, a falta de tempo da vida corrida e o trânsito influenciam o novo comportamento. A mudança pode ser notada nas tendências de alimentação no país, já que a maior delas, com 34%, é a da conveniência e praticidade segundo a pesquisa Brasil Food Trends 2020 desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Aproximadamente 35% das pessoas se alimentam fora de casa pelo menos três vezes por semana de acordo com o levantamento do Mundo do Marketing e da LeadPix. De segunda a sexta-feira, 47,08% dos entrevistados comem na rua e o almoço é a refeição mais consumida com 48,7%, seguido por lanche com 6,38%. Na sexta, no sábado e no domingo, 24,84% se alimentam fora de casa. O gasto médio para 76% deles fica entre R$ 5,00 e R$ 30,00. O levantamento realizado em setembro foi respondido por 958 pessoas em todo o país, sendo 41,4% mulheres e 58,6% homens. A faixa etária variou entre 35 e 59 anos.

Se quem almoça fora de casa economiza tempo, por outro lado, tem o desafio de conseguir seguir uma dieta mais equilibrada. Os restaurantes de comida a quilo, em geral, ainda pecam na qualidade dos alimentos na opinião de Thaty Magnavita, que já foi chef de cozinha, teve um restaurante e, hoje, é dona da assessoria de imprensa Tratto Comunicação e Consultoria. E são eles que aparecem como principal local de refeições fora de casa em 27% dos casos segundo os números da Brasil Food Trends 2020. As lanchonetes ou redes de fast-food ficam com 19% e, os restaurantes à la carte e as padarias, com 18% cada. Se a praticidade e o prazer ao comer interessam aos brasileiros, a saúde e o bem-estar também surgem como preocupação das pessoas. A qualidade de vida como um ideal que inclui a sociedade e o meio ambiente é uma tendência para 21% das pessoas.

Dificuldades do setor
O setor de alimentação está em expansão no país. No entanto, por ser um mercado heterogêneo que envolve tanto pontos de venda com comida pronta no local quanto delivery, inclusive ambulantes, ainda se depara com uma taxa de informalidade alta. “O informal não é informal porque quer. Ele até busca se formalizar, no entanto, na hora que ele vai atrás do alvará de localização e funcionamento, está obrigado a cumprir uma centena de legislações que são sobrepostas, conflitantes e implicam muitos mil de investimento para seu cumprimento”, diz Lucas Pêgo, Diretor Executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG).

Ao optar pela informalidade, o estabelecimento prejudica o cliente, já que não necessariamente cumpre as leis como a legislação sanitária. “A Vigilância Sanitária de Belo Horizonte afirma que faz as visitas mesmo em lugares que não têm CNPJ, mas sabemos que o número de fiscais ainda é insuficiente se levarmos em conta a quantidade de empresas no setor de alimentação fora do lar, que chega a um milhão no país”, comenta.

Publicidade

Além da informalidade, o excesso de cargas tributárias é um desafio para a sobrevivência dos restaurantes. “Há tributo em cima do pão, depois no hambúrguer e no sanduíche inteiro pronto”, diz Ingrid Devisate, Coordenadora da Área de Food Service da GS&MD – Gouvêa de Souza, em entrevista ao Mundo do Marketing. A grande rotatividade de funcionários no fast-food também é um problema. “O funcionário troca de empresa por R$ 50,00 e, para conseguir que ele permaneça na mesma companhia, talvez tenhamos que pensar em novas formas de trabalho, com a diminuição da carga horária”, avalia.

Oportunidades
Para enfrentarem as dificuldades, cerca de 20 empresas da cadeia do setor se inspiraram no Instituto de Desenvolvimento para o Varejo (IDV) e criaram o Instituto de Foodservice Brasil (IFB). O objetivo delas é trabalharem juntas para que o desenvolvimento desse mercado seja mais rápido e estruturado. “Começamos a discutir a criação do instituto há cerca de um ano e, como as pautas eram diversas, tentamos focar em algumas delas. Entendemos que a indústria de alimentação tem sede de informações e de indicadores comuns”, diz Ingrid Devisate. O IFB listou cinco pontos de atuação: o desenvolvimento de indicadores setoriais, a eficiência na cadeia de distribuição, o desenvolvimento de pessoas, a segurança alimentar e sustentabilidade e a racionalização tributária.

Se os desafios do mercado de alimentação fora do lar são grandes, as oportunidades são ainda maiores na opinião do Diretor Executivo da Abrasel de Minas Gerais. “O setor está em franco crescimento. Nos Estados Unidos, o número de pessoas que se alimenta fora de casa é muito maior do que no Brasil, mas se formos comparar a série histórica, estamos avançando numa velocidade superior a deles”, afirma. Ele acrescenta que o setor vem se preparando para servir públicos com dietas especiais como os idosos e os vegetarianos. “Há 20 anos, era raríssimo encontrar arroz integral num restaurante e hoje já conseguimos”, lembra.

Com a experiência de quem acompanha o setor há 20 anos, Thaty Magnavita vê o ramo de alimentação se profissionalizando no Rio de Janeiro. Se antes era possível administrar um estabelecimento de maneira amadora, hoje não há mais espaço para isso. “O Rio virou uma cidade cara, assim, ou você procura alguém para orientá-lo ou vai quebrar em um ano. Não há mais margem para erro”, comenta a jornalista que administrou um restaurante na zona sul da cidade por seis anos.

Pedidos via internet
Uma das oportunidades do setor é o pedido de entrega de comida em casa feito via internet. Entre 2010 e 2012, a compra de refeições por meio de site para delivery cresceu de 1% para 14% de acordo com os números da consultoria GS&MD – Gouvêa de Souza. Embora o número de pedidos online ainda seja pequeno no país, a expectativa é que ocorra a migração do telefone para internet. “A alimentação fora de casa crescerá cada vez mais, porque nos grandes centros o trânsito é um problema e tanto o homem quanto a mulher estão trabalhando. E ela crescerá mudando de canal”, diz Emerson Calegaretti, Fundador e Co-CEO da HelloFood Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.

A facilidade e a comodidade na hora da compra é a vantagem da internet em relação ao telefone. Se a transição para o online já ocorreu na compra de passagens aéreas, por exemplo, a mudança levará mais tempo no setor de alimentação. “Uma passagem aérea é um commodity, mas alimento é diferente. E a pessoa quer pedir e receber num prazo curto. A entrega imediata é uma dificuldade”, comenta. Outro desafio é lidar com a necessidade de interagir com alguém para que se confie na efetivação da transação, uma característica cultural dos brasileiros e dos latinos. “A pessoa começa usando a internet só para consultar o extrato do banco e, em algum momento, faz sua primeira compra pelo canal. Com o tempo, ela naturalmente tentará resolver todas as suas demandas pela web e, dessa forma, conseguiremos capturá-la”, afirma Calegaretti.

Para conquistar mais consumidores, a HelloFood Brasil dividiu sua estratégia em três fases. A primeira delas é o envio de mensagem publicitária quando o internauta busca informações sobre a entrega de comida em casa ou apenas o telefone de um determinado restaurante no Google ou no Facebook. O segundo momento é a realização de um trabalho educativo por meio de pop-ups e banners, que mencionam a possibilidade do serviço de delivery. Daqui a seis meses, a empresa planejada usar o rádio e a televisão para chegar ao público de uma maneira mais massiva.

Franquia e estratégia multimarca
A adoção do modelo de franquias e a estratégia multimarca também é uma oportunidade. O Grupo Trigo, detentor das redes de alimentação Spoleto, Domino’s Pizza e Koni Store, utiliza desde 2011 o modelo “store in store” para enfrentar a barreira de custo dos pontos comerciais. A proposta é criar um espaço semelhante a uma praça de alimentação, investindo ao máximo na programação visual da loja para que o cliente não se confunda em relação às marcas. “Está dando muito certo. Acreditamos que esse modelo reduza o risco do negócio e aumente a lucratividade”, diz Gustavo Thibau, Gerente de Marketing do Spoleto, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Nos últimos cinco anos, a média de crescimento do mercado de alimentação fora do lar tem sido de 11,6% e tem se direcionado ao Norte, Nordeste e para o interior. Aproveitando a expansão do mercado de shopping center e o bom momento da economia, o Spoleto planeja abrir 48 lojas em 2013. A média histórica é de 22 unidades. A intenção é manter o crescimento forte nos próximos anos e entrar em mais municípios e cidades menores, alcançando 500 lojas em 2017. “Desde 2010, estamos trabalhando com uma família de produtos com precificação mais agressiva, que representa uma participação nas vendas de quase 10%. Também pretendemos aumentar o portfólio de carne bovina, porque nossa estratégia é estar sempre com novidades nas lojas”, comenta Thibau.

 

Leia mais: Spoleto planeja chegar a 500 lojas em todo o Brasil até 2017. Conteúdo exclusivo para assinantes +Mundo do Marketing. Acesse aqui.

Veja a pesquisa na íntegra no canal +Mundo do Marketing, exclusivo para a assinantes.


 


Publicidade