A tecnologia encurtou as distâncias e abriu caminho para diversas possibilidades ao consumidor, tornando-os mais empoderados. As empresas passaram a se preocupar com o seu presente e com o futuro, buscando correr atrás em um ambiente de mercado muito mais complexo. Além desse cenário externo, a transformação digital impactou diretamente dentro das corporações, mudando a maneira com que eram pensadas e executadas estratégias, incluindo usos de ferramentas cada vez mais inovadoras.
O profissional antenado já está buscando especializações nos temas correlatos, porque sabe que se não o fizer será engolido por alguém que saiba – seja formado na área ou não. As inovações constantes pedem mais pensamento analítico e associado à tecnologia da informação – ações em tempo real, Internet das Coisas e Inteligência Artificial são só alguns termos que mostram como o profissional precisa estar capacitado para viver essas transformações.
Não se trata de uma atualização curricular apenas. É preciso quebrar paradigmas e preceitos sobre o que é o Marketing e o que ele será no futuro. “Percebemos que áreas ou funções que são de Marketing Digital acabam tendo uma boa procura, mas uma oferta não tão alta de profissionais. Há uma defasagem do que a empresa procura e o que o profissional tem a oferecer. Daqui a uns anos não será mais admissível atuar na área sem saber lidar com digital”, conta Lia Vicente, Diretora de Marketing para soluções de talentos na América Latina do LinkedIn, em entrevista ao Mundo do Marketing. Veja abaixo a entrevista completa com a especialista.
Mundo do Marketing – Como você avalia a transformação digital, principalmente na vida dos profissionais de Marketing?
Lia Vicente – Vejo que o profissional que não tem habilidade em Marketing Digital ainda não está fora do mercado, mas daqui há algum tempo isso vai ser essencial para formação e atuação dele. Especificamente no LinkedIn, percebemos que as pessoas estão cada vez mais obtendo resultados, fazendo ações cada vez mais segmentadas e mensurado mais os dados. Os processos de RH e recrutamento mudaram muito depois que a transformação digital chegou até eles também.
Antigamente era muito mais dependente de pessoas que estavam procurando uma recolocação e hoje em dia as empresas conseguem chegar a uma potência de dados com muito mais facilidade por conta de todas as ferramentas digitais disponíveis. A transformação digital está acontecendo em várias áreas, mas em três delas essa mudança está acontecendo de maneira mais intensa: vendas, Marketing e RH.
Mundo do Marketing – Em relação a atualização curricular de quem trabalha em Marketing, você percebe se está havendo um maior interesse na área digital?
Lia Vicente – Não tenho como comprovar, mas o que vejo é que, hoje em dia, ainda existe uma defasagem entre as necessidades das empresas e os profissionais. Percebemos, muitas vezes, que áreas ou funções que são de Marketing Digital acabam tendo uma boa procura, mas uma oferta não tão alta de profissionais. Então aqueles que tem um pouco de conhecimento acabam sendo disputados pelas empresas e agências.
Esse gap vem diminuindo, principalmente com o movimento de internacionalização de equipes digitais nas empresas. Aqueles que antigamente terceirizavam todos os seus trabalhos para agências estão revendo a maneira como vão lidar e trazer essa estrutura para dentro de casa, já que como o Marketing Digital depende muito da alteração de ferramentas, o controle delas acaba sendo artigo importante das empresas. Existem muitas empresas que internacionalizaram os seus profissionais e acabaram mantendo uma estrutura de digital bem "parruda".
Mundo do Marketing – Você percebe uma mudança na área de Marketing por causa da tecnologia? Os atuais anúncios de vagas mesclam as áreas?
Lia Vicente – O que vemos é como o Marketing Digital traz uma necessidade de conhecimento em ferramentas e uma capacidade de análise muito forte também pela alta captura de dados. Isso é importante para que os profissionais consigam extrair qual é a inteligência desses dados e tomar ação a partir disso. Não diria que o profissional está mudando 100%, mas essas habilidades analíticas, de operação de ferramentas e conhecimento em gerar informação com plataformas específicas estão sendo acrescidas ao perfil. Existe aquela velha luta de que o profissional de Marketing deve ser muito mais dados e menos criatividade. Não acredito que seja menos criatividade, mas a importância desse perfil para análise de dados com certeza é o que acaba dando mais força ao currículo.
Mundo do Marketing – Algumas pessoas têm especialização em digital, mas ainda não estão sabendo se colocar no mercado. Você poderia dar uma dica de como ser atraído e retido pelas empresas? E também para as empresas como encontrar esse bom profissional?
Lia Vicente – Para quem tem essas especializações diria que dentro do LinkedIn conseguimos fazer busca por profissionais por capacitação, qualificação e palavras chaves e empresas que estão buscando profissional. Com ferramentas de tecnologia fica mais fácil para encontrar. Agora, uma coisa importante para atrair é mostrar para os candidatos quais seriam as oportunidades de desenvolvimento.
Os principais motivos pelos quais as pessoas vão para as empresas são salários e benefícios, em primeiro lugar, mas possibilidade de desenvolvimento é muito alto também. É importante mostrar para aquele candidato como ele pode se desenvolver naquela área e por que aquela pessoa pode contribuir para sua empresa. E, uma vez que esse profissional esteja dentro da empresa, é essencial ter um plano de desenvolvimento para reter as pessoas por mais tempo e melhorar o índice de retenção.
Mundo do Marketing – Você possui algum case de negócio ou um profissional que foi impactado diretamente por essa transformação digital?
Lia Vicente – Eu mesma sou uma profissional formada em Publicidade em 2002. Quando me formei não existia Marketing Digital e a internet tinha acabado de começar para geração de negócios. Durante esses anos acabei me especializando, fazendo cursos, buscando formação complementar, mas mais do que isso, onde eu mais aprendi foi atuando mesmo. A transformação do setor se aprende vivendo e eu aprendi nas experiências profissionais que me mostraram o mercado em evolução, um trabalho que aprendemos com as coisas novas que estão acontecendo. Foi uma jornada de seis anos para que eu pudesse me transformar como profissional e continuar no mercado.
Antigamente não tínhamos essa realidade, o Marketing era outra coisa. Hoje em dia, quando falamos da área, pensamos muito mais em inteligência, rastreamento e resultados. Isso é algo imensurável para quem se formou comigo. Precisei me transformar e entender essa nova realidade que ainda está sendo composta, ela ainda não acabou de se transformar, mas vamos observando o mercado, as tendências e se adaptando para viver nessa nova era.
Mundo do Marketing – Assim como nesses anos você viveu essa transformação, daqui pra frente os profissionais verão muito mais mudanças. Que dica você dá para esses que ainda vão enfrentar novas experiências?
Lia Vicente – Em primeiro lugar, continue se especializando, busque novas experiências profissionais e aprendizado, porque não vejo nenhuma outra maneira de se manter no mercado de trabalho. Existem teorias que dizem que aprendemos 70% na prática e eu vejo que pelo menos os mais jovens acabam aprendendo muito na vivência do dia a dia – no digital principalmente. É importante testar, aceitar que haverá falhas, porque é com elas que vamos aprendendo a ser mais bem sucedidos.
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