Moda orgânica e sustentável: um caminho sem volta Bruno Mello 22 de julho de 2020

Moda orgânica e sustentável: um caminho sem volta

         

Tendência fortaleceu-se durante a pandemia, com consumidores buscando produtores locais, roupas de tecidos naturais e empreendedores reutilizando materiais para aumentar vendas

Moda orgânica e sustentável: um caminho sem volta
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Verônica Couto, Analista de Competitividade do SebraeA responsabilidade ambiental é um dos temas mais cobrados pelos consumidores – principalmente os GenZ – e que devem mudar a forma com que todos os setores lidam com desperdício de matéria-prima. A indústria da Moda já vem sendo impactada e busca cada ano que passa minimizar esses danos. A pauta já prioridade no segmento e mudanças importantes estão sendo feitas desde as plantações que darão origem à matéria-prima das peças até a emissão de carbono na logística de entrega.

A sociedade, como um todo, vem tentando mudar os números do desperdício: em média, as pessoas consomem 60% mais peças do que há 15 anos e cada item é mantido no armário por metade do tempo de antes, segundo dados da ONU, que lançou a “Aliança das Nações Unidas para a Moda Sustentável”, com o objetivo de colocar em evidência essa indústria, identificar desafios e estudar soluções. Com mais informações, os consumidores passam a aprender como as roupas e os acessórios de moda são feitos, onde, em quais condições e com quais recursos.

Quem sai em vantagem são as PMEs que atuam mais em nichos e em redes locais. “A sustentabilidade na Moda é um assunto bem discutido e não muito bem trabalhado. Esse é um tema que se fortaleceu com a pandemia. Há uma preocupação com higienização, as pessoas querem que os produtos durem mais, que possuam fibras naturais para o melhor conforto, quer saber a origem da peça, desde a confecção até quem costurou, ou seja, toda a cadeia de moda”, conta Verônica Couto, Analista de Competitividade do Sebrae, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Orgânico e Local

O Brasil tem tudo para se destacar na moda orgânica e sustentável por ser um dos únicos que possuem toda a cadeia de moda internamente: desde a plantação da matéria-prima até a venda. Essa é uma mega vantagem competitiva, mas que o país não conseguir repassar isso ao mercado local e mundial. O trabalho do Marketing nessa categoria é fundamental para que o assunto seja mais debatido entre as marcas e chegue de fato ao consumidor como um diferencial.

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Isso porque mesmo que seja tecido natural, se vier da China perde-se o sentido do sustentável, porque deixa-se de valorizar o local e ajudar a crescer na sua região. A pandemia aumentou esse olhar. “Antes o que se via era uma compra pelo preço, tecidos sintéticos e de produtos originários de outros países, que não se sabia a forma com que eram produzidos. Com a atual crise sanitária, passou a haver um olhar atento ao produtor local, a forma de descarte e a quanto ele recebe por produção”, contou Verônica.

Ao mesmo tempo que há o interesse pelo local, levanta-se a questão do custo de um produto natural e aliado ao meio ambiente. “A moda orgânica, por exemplo, é uma moda para público AB, porque os produtos são feitos em menor quantidade, as pessoas que desenham fazem para um público restrito e com maior informação – geralmente o AB. Não existe uma capilaridade de distribuição desse produto, não existem tantas pessoas que fazem e abasteçam de forma que dê para baratear, por isso ainda é nicho. Quando expandir mudará”, aponta a analista do Sebrae.

A marca Orgânica Moda trabalha desde 2011 com algodão 100% orgânico e roupas com design que favorecem tanto o ficar em casa quanto ir para a rua – as peças tem preço médio de R$ 200,00. A empresa também permite a personalização das peças com tintas naturais e atua no online (loja virtual e marketplace Elo7). Nas redes sociais da empresa são passados os valores que a fabricante acredita e não apenas uma vitrine virtual. A empresa atua no segmento com os pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico, integrando design e conforto ao ideal de um mundo mais justo. Toda a matéria prima é escolhida pela durabilidade, origem e impacto que causa no meio ambiente.

Reaproveitamento

A tendência de barateamento de peças sustentáveis vem das grandes redes. As fast fashions já estão lançando coleções de moda sustentável: a Renner, por exemplo, possui uma linha permanente de moda feminina e masculina. Fabricada pelo selo Re–Moda Responsável, todos os itens foram fabricados por meio de processos que diminuem o impacto ao meio ambiente e com matérias-primas alternativas, como poliamida biodegradável e fios reciclados a partir de resíduos da empresa.

A questão de reaproveitamento total de resíduos é um assunto que já vem transformando a indústria da moda. Existe uma atenção de perdas residuais e descartes. Quando não é possível, existe uma colaboração para cooperativas que fazem novos produtos com esses retalhos. “Um ponto de atenção é ao Marketing Institucional e como as fabricantes lidam com o assunto dentro das confecções, porque essa cultura da perda residual não é disseminada internamente. Muitos tecidos não podem ser reciclados, então é preciso haver um trabalho correto de como reaproveitar e não agredir o meio ambiente. Analisando o tratamento de resíduos seria bom já lidar com tecidos que tenham o mínimo de material artificial para que o descarte seja feito de material descartável. Quando é 100% algodão dá para ser 100% reciclado”, afirma Verônica.

Um exemplo de como as fábricas estão lidando com as perdas residuais é na fabricação de máscaras de tecido. A pandemia abriu essa oportunidade para os empresários – tanto de se adequarem à tendência de sustentabilidade quanto de movimentar o caixa. Muitas empresas de confecção transferiram sua força tarefa para criação de EPIs – máscaras e aventais. Existem empresas que durante a pandemia ao parar sua confecção e inserir esses materiais de proteção abriram mais portas no mercado.

O cuidado, por sua vez, deve ser de como apresentar esse novo item ao catálogo. “A maior parte das confecções da pequena indústria não era de EPI então tem que haver um cuidado para não mudar o negócio. Agregar kit é válido: combinar camiseta que fabrica com uma máscara.  O que não é recomendado é parar a produção e mudar de produto por causa de uma situação pontual. Como a tomada de decisão do consumidor é rápida, ele pode mudar de foco e o negócio ficar perdido”, analisa Verônica.

Saiba mais no estudo Cenário do mercado da Moda pós pandemia – conteúdo exclusivo para assinantes.

 


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