<p>Detectar e entender as aspira&ccedil;&otilde;es humanas da sociedade p&oacute;s-moderna e como essas motiva&ccedil;&otilde;es e desejos se refletem nos rituais de consumo n&atilde;o &eacute; tarefa f&aacute;cil. O Observat&oacute;rio de Tend&ecirc;ncias Ipsos capta as tend&ecirc;ncias de consumo nas principais capitais do mundo, identifica e analisa movimentos e fen&ocirc;menos observados em n&iacute;vel macroecon&ocirc;mico, pol&iacute;tico e social e seus reflexos no consumo, no comportamento, nas manifesta&ccedil;&otilde;es culturais, na arquitetura e na propaganda. <br /> <br /> Publicamos a seguir os sete perfis de consumo elencados pela empresa de pesquisa na &iacute;ntegra. &ldquo;As sete tend&ecirc;ncias revelam um mundo em busca de composi&ccedil;&atilde;o&rdquo;, aponta Clotilde Perez, Coordenadora Geral do Observat&oacute;rio. Esta composi&ccedil;&atilde;o passa por um eixo formado por ambiguidade, leveza, sonsoralidade, por um mundo edulcorado e reticular. <br /> <br /> <strong>1. Go Bubbles</strong><br /> Tudo ao mesmo tempo e agora: a ideia quase m&aacute;gica tornou-se uma condi&ccedil;&atilde;o para quem quisesse pertencer ao mundo globalizado. A aus&ecirc;ncia de limites tinha sua contraposi&ccedil;&atilde;o: se por um lado o indiv&iacute;duo dispunha da possibilidade de acesso praticamente irrestrito &agrave;s informa&ccedil;&otilde;es e contatos, por outro, ele tamb&eacute;m tinha que estar dispon&iacute;vel e atento a tudo para poder acompanhar esse novo ritmo. Logo os efeitos colaterais come&ccedil;aram a ser percebidos. A percep&ccedil;&atilde;o de excesso, a sensa&ccedil;&atilde;o de sobrecarga dava sinais desde as primeiras ondas do Observat&oacute;rio.<br /> <br /> Hoje n&atilde;o h&aacute; mais ambival&ecirc;ncia: &ldquo;o mundo &eacute; assim&rdquo;. Ningu&eacute;m mais se pergunta se &eacute; bom ou ruim ter internet, ter acesso &agrave; tecnologia… S&atilde;o as consequ&ecirc;ncias do conv&iacute;vio com a primeira gera&ccedil;&atilde;o de nativos digitais!<br /> <br /> Como a globaliza&ccedil;&atilde;o e a vida sem fronteiras n&atilde;o foram alcan&ccedil;adas, o mood agora &eacute; considerar o mundo, mas n&atilde;o &eacute; necess&aacute;rio estar l&aacute;… O tempo agorista ainda &eacute; um valor. Mas a aldeia global adquiriu dimens&otilde;es mais modestas, ainda que m&uacute;ltiplas. Estar &ldquo;conectado&rdquo; n&atilde;o significa, necessariamente, estar ligado&nbsp;a tudo o&nbsp;que acontece no mundo o tempo todo. Filtrar, selecionar e bloquear informa&ccedil;&otilde;es possibilitou limites. Conex&atilde;o, interatividade, multiplicidade est&atilde;o mais voltadas aos microcosmos, e s&atilde;o assim melhor administradas. Estas s&atilde;o as principais marcas da Tend&ecirc;ncia Go Bubbles &ldquo;conex&atilde;o no microcosmos&rdquo;.<br /> <br /> <strong>2. HiperSense</strong><br /> O desejo pela intensidade, surpreender e ser surpreendido, arriscar-se, ousar, sair do lugar comum, fazer algo diferente &ndash; peculiaridades tipicamente humanas &ndash; foram agu&ccedil;adas pelos efeitos de massifica&ccedil;&atilde;o e da pouca diferencia&ccedil;&atilde;o da era global.<br /> <br /> Desde as primeiras ondas deste Observat&oacute;rio foram observadas diferentes formas de buscar uma emo&ccedil;&atilde;o mais intensa: do desafio f&iacute;sico, que fazia subir a adrenalina nos esportes radicais, passando pelo exibicionismo, pelo voyeurismo, at&eacute; a invas&atilde;o do fetichismo.<br /> <br /> Essas manifesta&ccedil;&otilde;es continuam, mas surgiram formas mais elaboradas de se fazer notar e de sentir. Muitas vezes associadas a mensagens edificantes: minar preconceitos, atenuar tabus, manifestar uma ideia… A &ecirc;nfase agora est&aacute; em despertar os sentidos de maneira inusitada, ilusionar, misturar, sobrepor os sentidos. Estas s&atilde;o as marcas da Tend&ecirc;ncia HiperSense &ldquo;maximiza&ccedil;&atilde;o dos sentidos&rdquo;.<br /> <br /> <strong>3. Venus Fever</strong><br /> A discuss&atilde;o sobre os papeis sociais tradicionais do homem e da mulher j&aacute; n&atilde;o ocupa mais destaque. Nota-se que a quest&atilde;o saiu do debate p&uacute;blico e est&aacute; mais evidente no &acirc;mbito privativo &ndash; cada um se acerta com seus pares. Nas ondas anteriores, a mulher estava mais presa aos poderes que conquistou, enquanto o homem aparecia mais perdido, sem um papel muito definido. Estavam todos carentes de modelos. Neste momento fica evidente que h&aacute; certa parceria e flexibilidade.<br /> <br /> Um caminho sem volta. A mulher n&atilde;o ser&aacute; mais a antiga &ldquo;Am&eacute;lia&rdquo; e n&atilde;o se sente mais t&atilde;o amea&ccedil;ada pela perda de suas conquistas. Pode transitar mais naturalmente entre possibilidades: ora ocupando uma posi&ccedil;&atilde;o de mais lideran&ccedil;a, ora compartilhando,&nbsp;sentindo-se fr&aacute;gil e pedindo prote&ccedil;&atilde;o, ou at&eacute; mesmo servindo ao marido e aos&nbsp;filhos. Da mesma forma, o homem &eacute; tamb&eacute;m mais livre para circular: mais sens&iacute;vel, vulner&aacute;vel, parceiro e&nbsp;tamb&eacute;m pode ser mais viril, r&uacute;stico…<br /> <br /> Hoje, &eacute; a ideia de &ldquo;compor&rdquo; est&aacute; no centro das aten&ccedil;&otilde;es. O caricato, em qualquer sentido que seja, n&atilde;o tem mais espa&ccedil;o. Estas s&atilde;o caracter&iacute;sticas da tend&ecirc;ncia Venus Fever &ldquo;He, she, it: a composi&ccedil;&atilde;o como possibilidade&rdquo;.<br /> <br /> <strong>4. Living Well</strong><br /> Bem estar &eacute; o foco da tend&ecirc;ncia Living Well. Na onda anterior j&aacute; observ&aacute;vamos a diminui&ccedil;&atilde;o das cobran&ccedil;as e est&aacute;vamos mais livres das exig&ecirc;ncias sociais, o que deu o tom do &ldquo;bem estar poss&iacute;vel&rdquo;, com forte conex&atilde;o extra-corpus.<br /> <br /> Agora&nbsp;identificamos duas vertentes a partir de um conflito: Finitude ou Longevidade? &ldquo;Tem que ser hoje, porque pode acabar amanh&atilde;. E tem que ser todo dia, porque pode durar 90 anos&rdquo;. Diante dessa dicotomia evidenciamos por um lado forte valoriza&ccedil;&atilde;o do momento presente. Cuidar de si &eacute; mais poss&iacute;vel do que cuidar do planeta ou dos problemas de ordem mundial. Por outro lado, evidencia-se mais preocupa&ccedil;&atilde;o com o futuro, com manifesta&ccedil;&otilde;es de generosidade, de dedica&ccedil;&atilde;o aos outros, de ajudar, contribuir… Afinal vamos viver muito… A linguagem edulcorada e a generosidade s&atilde;o algumas das marcas da Tend&ecirc;ncia Living Well &ldquo;bem estar necess&aacute;rio&rdquo;.<br /> <br /> <strong>5. ID Quest</strong><br /> Nas ondas anteriores do Observat&oacute;rio, a tend&ecirc;ncia ID Quest revelava uma maior valoriza&ccedil;&atilde;o da mem&oacute;ria afetiva, dos registros pessoais e da busca por prote&ccedil;&atilde;o nas redes de seguran&ccedil;a tradicionais. Na atualidade ID Quest tem importante destaque: buscar as ra&iacute;zes para saber quem eu sou &ndash; e eu sou um mosaico.<br /> <br /> Amigos pessoais s&atilde;o mais valorizados, mesmo que o contato com eles seja mais virtual do que f&iacute;sico. Momento de crise financeira tamb&eacute;m intensifica a necessidade de contatos mais s&oacute;lidos e verdadeiros do que a ampla gama de desconhecidos. Sente-se tamb&eacute;m certo remorso, culpa por ter se distanciado durante certo tempo dos la&ccedil;os afetivos mais reais.<br /> <br /> S&atilde;o evidentes manifesta&ccedil;&otilde;es claras de busca afetiva, como design de &eacute;poca, objetos do passado, colecionismo em alta, remakes de filmes e pe&ccedil;as de sucesso, renascimento das mascotes de marca e cria&ccedil;&atilde;o de novas, valoriza&ccedil;&atilde;o das hist&oacute;rias de vida, os pets e a sedu&ccedil;&atilde;o pela eternidade. Tudo em busca de uma rela&ccedil;&atilde;o mais emocional e mais afetiva como possibilidade de constitui&ccedil;&atilde;o da pr&oacute;pria identidade, ainda que esta identidade se&nbsp;forme na composi&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> &Eacute; preciso respeitar o mosaico de si mesmo, privilegiar cada pedacinho de si. Essas s&atilde;o algumas das caracter&iacute;sticas da Tend&ecirc;ncia ID Quest &ldquo;patchwork identit&aacute;rio&rdquo;.<br /> <br /> <strong>6. My Way</strong><br /> A tend&ecirc;ncia My Way apresentava-se em ascens&atilde;o na onda anterior: a ind&uacute;stria a servi&ccedil;o da customiza&ccedil;&atilde;o com possibilidades cada vez mais f&aacute;ceis e acess&iacute;veis de se diferenciar; a ind&uacute;stria favorecendo a customiza&ccedil;&atilde;o. Agora o foco passou a ser no indiv&iacute;duo e em tudo que lhe agrada e singulariza. N&atilde;o queremos apenas personalizar: somos autores-atores prontos para performar.<br /> <br /> Agora, as manifesta&ccedil;&otilde;es de individualidade est&atilde;o tamb&eacute;m expressas na rela&ccedil;&atilde;o com o outro, na co-autoria, nos processos de co-criation, na colabora&ccedil;&atilde;o. O exerc&iacute;cio da criatividade est&aacute; na capacidade de transitar por v&aacute;rios estilos, atitudes e comportamentos. Ser &uacute;nico e ser m&uacute;ltiplo &eacute; o tom de My Way, &ldquo;protagonismo e criatividade&rdquo;.<br /> <br /> <strong>7. Know Your Rights</strong><br /> &Eacute; a mais atual das tend&ecirc;ncias. Vem crescendo em cada onda do Observat&oacute;rio. Alicer&ccedil;ada no paradigma contempor&acirc;neo &ldquo;consumir &eacute; existir&rdquo;, com ramifica&ccedil;&otilde;es para o consumo cr&iacute;tico, &eacute;tico e sofisticado, esta tend&ecirc;ncia agora d&aacute; sinais de fus&atilde;o entre os eixos &ldquo;cr&iacute;tico&rdquo; e &ldquo;&eacute;tico&rdquo;: repudia-se tanto o excesso do capitalismo e das grandes corpora&ccedil;&otilde;es, quanto a forma de produ&ccedil;&atilde;o.&nbsp;E tamb&eacute;m n&atilde;o basta aderir a produtos &eacute;ticos se o consumo for excessivo.<br /> <br /> &Eacute;tica e est&eacute;tica aglutinam-se: &ldquo;&eacute; feio jogar papel no ch&atilde;o&rdquo;. Festa do consumo respons&aacute;vel, dia sem compras, loja gratuita, s&atilde;o exemplos claros dessas misturas. As manifesta&ccedil;&otilde;es de insatisfa&ccedil;&atilde;o, rep&uacute;dio e at&eacute; vingan&ccedil;a contra organiza&ccedil;&otilde;es e marcas proliferam-se na rede.<br /> <br /> Na vertente da sofistica&ccedil;&atilde;o do consumo, notamos sinais do surgimento de novos significados para luxo: momento de mais modera&ccedil;&atilde;o e controle e&nbsp;aten&ccedil;&atilde;o ao que se mostra.&nbsp;A ideia de excessos pode comprometer a&nbsp;imagem pessoal. Marcas de luxo voltam-se para o core business em busca de seguran&ccedil;a e manuten&ccedil;&atilde;o das vendas. Estas s&atilde;o algumas das evid&ecirc;ncias de Know Your Rights &ldquo;Consumidores complexos e cr&iacute;ticos&rdquo;.</p>
Tendências de consumo. Conheça 7 perfis
21 de junho de 2010