<p><strong>Relacionamento como vantagem competitiva<br /><br /></strong>F&aacute;bio Albuquerque*<br /><br />Evitar que produtos e servi&ccedil;os sejam percebidos como commodities. Este &eacute; um dos principais desafios das empresas para obter a t&atilde;o sonhada vantagem competitiva em rela&ccedil;&atilde;o aos concorrentes. Para chegar a este n&iacute;vel, a empresa precisa gerenciar sua cadeia de valor e o relacionamento com seus stakeholders. Para fazer os consumidores e os demais p&uacute;blicos perceberem res&iacute;duos de &ldquo;valor&rdquo; em seus produtos e servi&ccedil;os ser&aacute; necess&aacute;rio compreender cada vez mais como se processa a rela&ccedil;&atilde;o entre organiza&ccedil;&atilde;o-p&uacute;blicos, entre consumidor-produto/servi&ccedil;o.</p><p>&Eacute; poss&iacute;vel encontrar no corpo da miss&atilde;o de in&uacute;meras organiza&ccedil;&otilde;es da atualidade o texto &ldquo;gerar valor para os acionistas&rdquo;. Mas como gerar &ldquo;valor&rdquo; para os acionistas, se esse &ldquo;valor&rdquo; n&atilde;o &eacute; explicado e praticado pelos funcion&aacute;rios? Se clientes e consumidores n&atilde;o conseguem perceber esse &ldquo;valor&rdquo; na sua totalidade? Se fornecedores n&atilde;o est&atilde;o verdadeiramente compromissados com em gerar esse &rdquo;valor&rdquo;?</p><p>A grande quest&atilde;o &eacute; que &ldquo;valor&rdquo; para os acionistas normalmente possui conota&ccedil;&atilde;o apenas financeira, enquanto para funcion&aacute;rios, consumidores e fornecedores, o termo &ldquo;valor&rdquo; possui uma grande carga de conota&ccedil;&atilde;o simb&oacute;lica. Para muitos, o verdadeiro &ldquo;valor&rdquo; est&aacute; relacionado a aspectos subjetivos e emocionais. Necessidades, desejos, realiza&ccedil;&otilde;es, auto-estima, status, entre outros, s&atilde;o aspectos extr&iacute;nsecos aos produtos e cada vez mais valorizados na rela&ccedil;&atilde;o dos p&uacute;blicos com a empresa, com o pr&oacute;prio produto ou servi&ccedil;o colocado &agrave; venda.</p><p>A embalagem de um produto, os atributos desse produto, a performance desses atributos, as conseq&uuml;&ecirc;ncias geradas pelo seu uso, assim como uma eficiente campanha publicit&aacute;ria, possui o mesmo poder de gerar &ldquo;valor&rdquo; que um atendimento mal feito, que a indiferen&ccedil;a e o tempo de espera em um telefonema, que a sujeira nas paredes de uma empresa, que a demora no pagamento de um fornecedor, que o coment&aacute;rio negativo sobre a empresa feito por um funcion&aacute;rio dentro do &ocirc;nibus.</p><p>O verdadeiro res&iacute;duo de &ldquo;valor&rdquo;, a verdadeira vantagem competitiva de uma organiza&ccedil;&atilde;o, est&aacute; no relacionamento. Relacionamento entendido aqui enquanto experi&ecirc;ncia de troca entre uma organiza&ccedil;&atilde;o e seus p&uacute;blicos de interesse, onde todas as formas de contato e intera&ccedil;&atilde;o entre a empresa e os p&uacute;blicos possuem o poder de facilitar ou bloquear a percep&ccedil;&atilde;o de &ldquo;valor&rdquo;.</p><p>Imagine voc&ecirc; em frente &agrave; g&ocirc;ndola de um supermercado em busca de um produto &ldquo;x&rdquo;. A sua falta de conhecimento sobre a marca do produto &ldquo;x&rdquo;, a inexist&ecirc;ncia de uma rela&ccedil;&atilde;o anterior com o produto &ldquo;x&rdquo;, podem levar voc&ecirc; a decidir pela aquisi&ccedil;&atilde;o do produto &ldquo;y&rdquo;, uma vez que, mesmo custando mais caro, voc&ecirc; j&aacute; conhece a marca do produto &ldquo;y&rdquo;, j&aacute; est&aacute; familiarizado com ela e ela j&aacute; lhe proporcionou experi&ecirc;ncias satisfat&oacute;rias. Mesmo sem perceber, voc&ecirc; tomou sua decis&atilde;o de compra invocando conhecimentos, cren&ccedil;as e valores formados atrav&eacute;s de experi&ecirc;ncias passadas com a marca do produto &ldquo;y&rdquo;. Essa rela&ccedil;&atilde;o de experi&ecirc;ncia com a marca, ou mesmo com o produto, &eacute; a for&ccedil;a motriz do &ldquo;valor&rdquo;, da vantagem competitiva.</p><p>Nesta perspectiva, a comunica&ccedil;&atilde;o organizacional assume papel estrat&eacute;gico na gest&atilde;o do neg&oacute;cio, gerindo e mediando estrat&eacute;gias, pol&iacute;ticas e a&ccedil;&otilde;es que possam materializar uma experi&ecirc;ncia de relacionamento eficaz, e, por conseq&uuml;&ecirc;ncia, facilitar a percep&ccedil;&atilde;o de &ldquo;valor&rdquo; por aqueles que se relacionam e interagem com a organiza&ccedil;&atilde;o e com seus produtos/servi&ccedil;os.</p><p>Evidencia-se a&iacute; a exist&ecirc;ncia do trin&ocirc;mio comunica&ccedil;&atilde;o-relacionamento-valor que se apresenta intrinsecamente umbilicado e estrategicamente articulado, sem o qual ser&aacute; imposs&iacute;vel &ldquo;gerar valor&rdquo;, fazer esse &ldquo;valor&rdquo; ser praticado e percebido pelos p&uacute;blicos e evidenciar as trocas necess&aacute;rias &agrave; sobreviv&ecirc;ncia do neg&oacute;cio empresarial.</p><p>Na verdade, todo o investimento de comunica&ccedil;&atilde;o e marketing de uma empresa pode ser em v&atilde;o, caso a estrat&eacute;gia n&atilde;o esteja sustentada por esse trin&ocirc;mio. Infelizmente, devido &agrave; press&atilde;o por resultados imediatos, a maioria das empresas ainda usa a comunica&ccedil;&atilde;o apenas com a finalidade de vender seus produtos e servi&ccedil;os, sem entender que a comunica&ccedil;&atilde;o puramente mercadol&oacute;gica, por si s&oacute;, pouco ou nada contribui para gera&ccedil;&atilde;o de &ldquo;valor&rdquo; na rela&ccedil;&atilde;o com os p&uacute;blicos de interesse.</p><p>Fala-se muito em comunica&ccedil;&atilde;o estrat&eacute;gica e em marketing de relacionamento, mas pouco ou quase nada se coloca em pr&aacute;tica no mercado. O discurso de grande maioria das empresas n&atilde;o tem sa&iacute;do da oralidade para se transformar em atitudes proativas. &Eacute; preciso entender que a comunica&ccedil;&atilde;o s&oacute; ser&aacute; estrat&eacute;gica e o marketing s&oacute; ser&aacute; eficaz se conseguir &ldquo;gerar valor&rdquo;. O verdadeiro e principal res&iacute;duo de &ldquo;valor&rdquo; que a comunica&ccedil;&atilde;o e o marketing de uma organiza&ccedil;&atilde;o devem criar &eacute; o relacionamento. O relacionamento &eacute; a principal raz&atilde;o de ser uma empresa, de uma organiza&ccedil;&atilde;o. Sem comunica&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o h&aacute; relacionamento. Sem relacionamento, n&atilde;o h&aacute; &ldquo;valor&rdquo;. Sem &ldquo;valor&rdquo; n&atilde;o h&aacute; neg&oacute;cio.</p><p>Toda organiza&ccedil;&atilde;o (p&uacute;blica, privada ou n&atilde;o governamental) tem o poder de influenciar e ser influenciada pelos p&uacute;blicos com os quais se relaciona. Toda e qualquer organiza&ccedil;&atilde;o depende do relacionamento com funcion&aacute;rios, consumidores, benefici&aacute;rios, fornecedores, formadores de opini&atilde;o, comunidade, entre outros, para poder existir e sobreviver.</p><p>Ao focar suas a&ccedil;&otilde;es de comunica&ccedil;&atilde;o no relacionamento com os p&uacute;blicos de interesse, e n&atilde;o apenas na figura do consumidor (como ainda pensa o marketing de algumas empresas), ser&aacute; poss&iacute;vel &agrave; organiza&ccedil;&atilde;o ativar e construir uma verdadeira rela&ccedil;&atilde;o de &ldquo;valor&rdquo; com todos eles, capaz de angariar muito mais que &ldquo;ficantes&rdquo; com a marca, mas sim &ldquo;apaixonados&rdquo; por ela, pessoas que, naturalmente, se transformar&atilde;o em verdadeiros advogados da marca, e, conseq&uuml;entemente, de seus produtos e servi&ccedil;os.</p><p>Por tudo isso &eacute; que acreditamos que, para sobreviver na &ldquo;era do valor&rdquo; (Jack Welch), a verdadeira vantagem competitiva das organiza&ccedil;&otilde;es deve ser o relacionamento.</p><p>*F&aacute;bio Albuquerque &eacute; Rela&ccedil;&otilde;es P&uacute;blicas, especialista em Estrat&eacute;gia Empresarial, coordena a &aacute;rea de Comunica&ccedil;&atilde;o e Marketing da TV Tamba&uacute;, afiliada do SBT na Para&iacute;ba, e da r&aacute;dio Tamba&uacute; FM. Professor universit&aacute;rio, leciona no Departamento de Comunica&ccedil;&atilde;o e Turismo da UFPB, na &aacute;rea de Rela&ccedil;&otilde;es P&uacute;blicas.</p>
Relacionamento como vantagem competitiva
26 de junho de 2006