Razões para não comemorar o Dia Internacional da Mulher – Mitos e mentiras sobre o feminismo Bruno Mello 8 de março de 2021

Razões para não comemorar o Dia Internacional da Mulher – Mitos e mentiras sobre o feminismo

         

HOJE É UM DIA QUALQUER e especial como todos para falar que o feminismo precisa de uma auto reflexão

Razões para não comemorar o Dia Internacional da Mulher – Mitos e mentiras sobre o feminismo
Publicidade

Caso você não saiba, o Dia Internacional da Mulher comemora centenas de mulheres queimadas dentro de uma fábrica por lutarem pelo direito de continuar trabalhando. As feministas* não lutam por poder e/ou para colocar os homens abaixo delas, isso se chama femismo*.

O empreendedorismo feminino cresce já que as empresas não deixam as mulheres terem voz no corporativo. A maior parte dos homens e mulheres são machistas e não se dão conta disso.

As mulheres não querem igualdade!

Ninguém é igual a ninguém e as diferenças precisam ser respeitadas. As mulheres querem equidade de direitos e de liberdade. Você consegue se imaginar em um ambiente da qual tem uma ideia fenomenal para solucionar o problema e pensa se é relevante o suficiente para verbalizar a solução?

Se a resposta é não, você provavelmente é um homem. Se respondeu sim você é uma mulher, pois sua fala ainda em muitos lugares é questionada para somente depois verificarem a viabilidade da solução. Esse desgaste emocional faz com que elas muitas vezes recuem e deixam de lado seu crescimento pessoal ou que verbalizem suas ideias.

Publicidade

Esse comportamento do dia a dia no corporativo que está impulsionando assustadoramente o empreendedorismo feminino. De 2018 para 2019 crescemos mais de 1 milhão de empresas comandadas por elas. Desde 2015, as empreendedoras correspondem a mais de 52% das empresas abertas.

Deve ser uma escolha 

O que me pergunto é se isso é uma escolha ou uma imposição. Se é a única saída para alcançar o mesmo salário trabalhando tão duro quanto seu marido, por exemplo. Só para lembrar, elas recebem em média 30% de salário a menos, entregando os mesmos resultados que os homens.

O machismo* está impregnado em muitas mulheres e elas não percebem. Mulheres, não digam que não gostam das feministas porque atrapalham as mulheres crescerem no mercado. Isso mostra tua falta de preparo e de conhecimento. São as feministas que te derem a oportunidade de estudar no país.

Brasil e a liberdade da mulher 

Foram as feministas que te deram a liberdade que você imagina que nasceu com ela, mas não nasceu. Esses direitos de liberdade eram somente dos homens.

– Brasil tem 5 séculos de vida e somente há 1 século que pudemos aprender ler e escrever nosso nome, ser alfabetizada.

– Se você tem 57 anos e é mulher nasceu sem o direito de escolher quem governa o país. Somente as mais jovens que nasceram sem saber o que é não poder falar de política, pois não é adequada para mulheres.

– Somente em 1961 que Margaret Sanger, enfermeira e sexóloga foi responsável pela descoberta da pílula anticoncepcional. Ela acreditava que as mulheres não teriam os mesmos direitos que os homens enquanto não fossem livres sexualmente. Ela queria que fosse possível uma mulher ter controle do seu corpo, decidindo se queria ou não ter filhos. Então, se hoje você tem a liberdade de não passar anos grávida de criança uma atrás da outra é graças a uma feminista.

– Se levarmos em consideração o que dizia o Código Civil de 1916, as mulheres casadas não tinham nenhum poder de decisão. Era necessário ter autorização do marido para trabalhar fora de casa, por exemplo. Foi só em 1962 que surgiu a Lei 4.121/62, o Estatuto da Mulher Casada, abolindo a incapacidade da mulher. Através desse estatuto foi possível que a mulher trabalhasse fora de casa, além de ter direito à herança e requerer a guarda dos filhos em caso de separação. Esse ganho tornou o papel da mulher um pouco mais próximo ao do homem, mas os gêneros só foram considerados iguais perante a lei com a Constituição de 1988, menos de 30 anos atrás.

– Foi somente no final da década de 1970 que as mulheres puderam ter a escolha de sair de um casamento. Tratava-se de uma reinvindicação do movimento feminista e que gerou muita polêmica na época. Até então, as mulheres casadas continuavam com um vínculo jurídico até o fim de suas vidas. Isso significa que perante a lei elas continuam pertencendo aos seus maridos. Era possível fazer o pedido de “desquite”, mas o vínculo matrimonial permanecia.

– Só a Constituição de 1988 trouxe que um indivíduo pode se casar e divorciar quantas vezes quisesse.

– Por que você acha que há tanto feminicídio? Muitos ainda estão sendo criados com a mentalidade de que a mulher é um produto e uma posse deles.

– Somente em 2006 que um homem perdeu o direito de bater numa mulher. Essa lei tem apenas 18 anos e por isso, que 3 em 4 mulheres sofrem ou já sofreram com alguma agressão física.

– Somente em 2015 que o homem que mata sua namorada, esposa ou uma mulher da qual tem vínculo emocional, perde o direito de fazer dizendo que ela fez algo que o abalou a ponto de abalar seu emocional. Somente há 6 anos que as famílias das mulheres mortas, podem dizer e processar esses homens como assassinos que tiraram a vida de outra pessoa.

A liberdade 

Essa liberdade e direitos iguais não deve ser uma luta das mulheres, mas sim uma desconstrução da sociedade como um todo. Pois, vejo nesse caminho muitas feministas* sangrando pelo caminho e sendo rotulada pelas pessoas que ela se transforma numa femista*.

Li um texto da Patty Bianco da qual fiz várias adaptações para me representar e compartilhar com vocês:

“Faz sentido falar em empoderamento e humilhar a empregada ou quem atua na linha de frente de serviços? Do que adianta comemorar o dia de hoje e não pagar um salário e jornada de trabalho dignas para suas funcionárias? Ou frequentemente desacreditar sua filha? Dizer a sua esposa ou filha que elas não têm capacidade ou que aquilo não é para mulher.  

Do que adianta homenagear, e pedir desconto no pequeno negócio da sua amiga? Do que adianta comemorar e fazer piada sobre os atributos físicos das colegas? Do que adianta comemorar e fazer do ambiente de trabalho um campo de caça ao seu apetite sexual? Do que adianta comemorar, se auto definir Executiva, “Business woman” e menosprezar quem optou por ser mãe e julgar que ela é menos importante ou gera menos valor na sociedade do que você?  

Antes de flores e chocolates. 

Nunca esqueça, que a luta da mulher, é étnica, de classe e estrutural.” 

Recordo de um evento importante da qual na mesa estávamos em 8 homens empresários, uma mulher dona de casa acompanhando o marido e eu a segunda mulher da mesa e empresária.

Quando todos se apresentaram falando dos feitos profissionais, ela se apresentou como advogada que escolheu abrir mão da carreira para cuidar dos 2 filhos. Eu simplesmente parabenizei pela escolha super difícil e corajosa.

Ela começou chorar e ali eu aprendi que o óbvio precisa ser dito. As mulheres corajosas que abrem caminhos para outras mulheres nesta jornada, precisam gritar aos quatros ventos que é uma opção e não uma imposição. O óbvio precisa ser dito.

Lógico que ela sente falta da sua realização pessoal e sua independência financeira, sendo mãe e administradora. Uma mulher que optou por essa decisão tem duas opções: ou precisa da benção do marido para comprar até uma bala, pois o dinheiro é só dele.

Ou ele é um cara evoluído e tratam o casamento como parceria e sociedade e entendem que os esforços e o dinheiro são de ambos com decisões igualitárias. A questão que hoje ela tem outros caminhos e se é a escolha dela está tudo bem.

O Feminismo precisa de respeito: 

O FEMINISMO PRECISA DE RESPEITO em todos os lugares, igualdade salarial e liberdade para trabalhar. EQUIDADE não abala as estruturas de poder nem terceiriza a opressão de perguntar em entrevistas de emprego:

“Quem levará seu filho no médico ou na escola? Quem cuidará da casa?”.

O feminismo escuta as classe e etnia – não se recusa a tratar das restrições socioeconômicas – não está apegado a aspectos superficiais de estética e padrões do feminino – qualquer coisa fora disso não é feminismo.

– Quando a mulher de fato, parar de ser vista como mercadoria, fetiche de consumo;

– Quando o marketing vai respeitá-la a ponto de parar de mexer com sua autoestima para vender uma cadeira de produtos e serviços;

– Quando o comércio abolir essa data não fazendo mais sentido vender flores e bombons.

Eu ou as mulheres das próximas gerações se sentirão realizadas, porque as mulheres que hoje estão em condição de extrema vulnerabilidade já de fato terão sido pauta de discussões e entregue soluções para tal.

Existem muitos abismos estruturais da sociedade, que desqualificam a luta de mulheres composta por sangue e dor. Não seja uma dessas pessoas.

As razões pelas quais não devemos comemorar o dia das mulheres são muito claras: não se trata de uma comemoração, mas sim um dia de representatividade, de luta e de reconhecimento por todas que lutaram pelo espaço de fala que nós mulheres temos hoje. Aguardo ansiosamente pelo dia que não precisaremos comemorar, pois será nesse dia que não será mais preciso trazer debates incessantes para defender algo que é de nosso direito.

Notas para o texto:  

*Femismo: Doutrina que prega a supremacia da mulher em relação ao homem.

[Sociologia] Ideologia que busca a inversão da lógica do patriarcado, almejando construir uma sociedade matriarcal, em que o poder é exercido somente por mulheres.

*Feminismo: Doutrina e movimento social que clama para que as mulheres reconheçam as capacidades e direitos que tradicionalmente são reservados aos homens.

*Machismo: Atitude ou modo de pensar daqueles que afirmam que o homem é por natureza superior à mulher. Ideologia que prega manter o patriarcado, almejando continuar com uma sociedade, em que o poder é exercido somente por homens.

Image by rawpixel.com


Publicidade