<p>Por Gilberto Strunck*<br /> <br /> Um dos pontos mais sens&iacute;veis das quest&otilde;es que dizem respeito &agrave; comunica&ccedil;&atilde;o &eacute; o do papel da m&iacute;dia em rela&ccedil;&atilde;o aos seus consumidores. Voc&ecirc; conhecia a palavra &ldquo;funhanhando&rdquo;? Nem eu, mas bastou a ex-ministra Dilma Roussef pronunci&aacute;-la numa entrevista transmitida pela emissora Planeta Di&aacute;rio, do Vale do Para&iacute;ba, para que milhares de pessoas enviassem tweets e e-mails para a r&aacute;dio, fazendo o assunto repercutir imediatamente na grande m&iacute;dia.<br /> <br /> Uma boa parte do nosso comportamento, da nossa vis&atilde;o da sociedade, &eacute; transmitida por experi&ecirc;ncias n&atilde;o vividas, mas conhecidas por meio das m&iacute;dias. TV, jornais e revistas, r&aacute;dios e Internet s&atilde;o algumas das fontes constantes de informa&ccedil;&otilde;es, &agrave;s quais podemos creditar nossa forma de ver o mundo.<br /> <br /> Usualmente, quem faz jornalismo est&aacute; antenado nos acontecimentos relacionados &agrave; sua especialidade e tem sempre suas &ldquo;fontes&rdquo;, interlocutores mais frequentes, que tomam parte nos acontecimentos e os relatam, muitas vezes em &ldquo;off&rdquo;, para divulga&ccedil;&atilde;o pela imprensa. Da mesma forma, programas de TV e r&aacute;dio, reportagens sobre comportamento em jornais e revistas trabalham seus conte&uacute;dos a partir de investiga&ccedil;&otilde;es individuais ou at&eacute; feitas por grandes equipes de produ&ccedil;&atilde;o, que pesquisam e desenvolvem temas propostos por editores e diretores. Mas, nos &uacute;ltimos tempos, e de forma acelerada, este processo vem tomando outra din&acirc;mica.<br /> <br /> O que se observa hoje em dia &eacute; a mudan&ccedil;a no comportamento da audi&ecirc;ncia, que come&ccedil;a a pautar a m&iacute;dia, com sugest&otilde;es de temas para as suas mat&eacute;rias. Este fen&ocirc;meno vai muito al&eacute;m das &ldquo;cartas dos leitores&rdquo;. Ele deriva da Internet, com o uso dos blogs, do Twitter, do You Tube e de outros recursos existentes para que as pessoas se informem sobre os temas que realmente lhes interessam e n&atilde;o somente por aqueles abordados pela grande m&iacute;dia. Neste contexto, a discuss&atilde;o se houve ou n&atilde;o um p&ecirc;nalti na decis&atilde;o do campeonato, pode ser muito mais relevante do que a not&iacute;cia sobre um fato pol&iacute;tico.<br /> <br /> O processo natural de um jornalista de TV fazer uma mat&eacute;ria do interesse da sua dire&ccedil;&atilde;o e veicul&aacute;-la vem sendo pautado, entre outras coisas, pelos milhares de filmes postados diariamente no You Tube. A cada dia s&atilde;o acessados mais de dois bilh&otilde;es de filmes neste site (dados de maio de 2010). Aqueles mais vistos tornam-se, quase que naturalmente, pautas para a m&iacute;dia.<br /> <br /> O consumidor de not&iacute;cias est&aacute; cada vez mais livre para escolher sua pr&oacute;pria fonte de informa&ccedil;&otilde;es e at&eacute; para format&aacute;-la de modo individualizado. E, mais do que isto, est&aacute; se apropriando das oportunidades que tem para gerar conte&uacute;do. No mundo inteiro, o dilema da m&iacute;dia &eacute; como conseguir conservar e ampliar seus consumidores, principalmente os mais jovens, inquietos, multifacetados em seus interesses. Ser&aacute; que muitos jornalistas n&atilde;o est&atilde;o escrevendo para si pr&oacute;prios?<br /> <br /> PS: Poucos dias ap&oacute;s eu ter escrito este artigo, surgiu a brincadeira do &ldquo;CALA A BOCA GALV&Atilde;O&rdquo;. Esta frase, postada assim mesmo no Twitter, tornou-se um daqueles assuntos que partiram de pessoas comuns, para reverberar na grande m&iacute;dia. Em uma semana, a frase tornou-se um hit, figurando entre os dez temas mais comentados do servi&ccedil;o, no mundo. Como n&atilde;o podia deixar de ser, foi pautada pelos influentes Wall Street Journal e New York Times, entre muitos outros, e acabou como assunto de capa da Veja.<br /> <br /> * Gilberto Strunck, &eacute; S&oacute;cio-Diretor da DIA Comunica&ccedil;&atilde;o. Autor de v&aacute;rios livros sobre design, &eacute; Professor da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Conselheiro do POPAI Brasil e membro do Board Internacional desta entidade.</p>
Quem pauta a mídia?
1 de julho de 2010