<p>Por Paulo Silveira*<br /> <br /> A competi&ccedil;&atilde;o entre os pares foi a mola mestre na constitui&ccedil;&atilde;o da sociedade do &ldquo;ter para ser&rdquo;, gerando cidad&atilde;os narcisistas com uma aparente auto-sufici&ecirc;ncia em rela&ccedil;&atilde;o ao que os cercam, tendo como s&iacute;mbolo maior a cria&ccedil;&atilde;o de um deus a sua imagem e semelhan&ccedil;a. De acordo com essa l&oacute;gica, o acesso ao sucesso no mercado de trabalho demanda dedica&ccedil;&atilde;o quase que exclusiva &agrave; empresa, exigindo que os executivos se tornem obsessivos, carism&aacute;ticos, super-especialistas, que estimulada pelo &ldquo;sucesso&rdquo; do toyotismo, forjou a gera&ccedil;&atilde;o workaholics.<br /> <br /> Todas essas exig&ecirc;ncias fizeram com que a compuls&atilde;o se tornasse uma das caracter&iacute;sticas do &ldquo;humano moderno&rdquo;, com a OMS estimando que 60% da popula&ccedil;&atilde;o brasileira &eacute; afetada direta ou indiretamente por ela. Com a populariza&ccedil;&atilde;o da inform&aacute;tica, do micro computador e da internet, as transforma&ccedil;&otilde;es em nossa sociedade passaram a ocorrer em uma velocidade onde at&eacute; mesmo o novo e o recente ficaram distantes. Vejam, por exemplo, o orkut e o twitter.<br /> <br /> Como recheio desse bolo surgem o aquecimento global e a deteriora&ccedil;&atilde;o das fontes de recursos naturais e dos ecossistemas de nosso planeta nos trazendo preocupa&ccedil;&otilde;es globais e exigindo profundas mudan&ccedil;as no nosso modo de ser e viver. A incerteza &eacute; a marca do nosso tempo. Com a incerteza, cresce a compuls&atilde;o, tomando ares de pandemia, nas suas diversas formas de manifesta&ccedil;&atilde;o, como o uso abusivo de drogas (l&iacute;citas ou il&iacute;citas); o crescimento vertiginoso de obesos e, principalmente, de crian&ccedil;as com sobrepeso; de doen&ccedil;as/ &oacute;bitos provocados por estresse; etc, etc.<br /> <br /> Teorias surgem a todo momento apontando solu&ccedil;&otilde;es em dire&ccedil;&otilde;es opostas e, aparentemente, antag&ocirc;nicas. Um exemplo marcante s&atilde;o os economistas de vanguarda propondo um crescimento zero da economia mundial como forma de garantir qualidade de vida para as gera&ccedil;&otilde;es futuras. A sociedade do &ldquo;ter para ser&rdquo; se desmancha, se meta transformando, lenta, por&eacute;m, progressiva e consistentemente, na sociedade do &ldquo;interagir para existir&rdquo;.<br /> <br /> Acontece que na sociedade do &ldquo;interagir para existir&rdquo; as qualidades mais valorizadas s&atilde;o definidas por tr&ecirc;s verbos pouco conjugados at&eacute; aqui e totalmente incompat&iacute;veis com a compuls&atilde;o: criar, emocionar, relacionar. Em alguns setores de nossa economia essa mudan&ccedil;a &eacute; sentida com mais &ecirc;nfase, como, por exemplo, na publicidade. Se &eacute; essencial para as ag&ecirc;ncias de publicidade reduzirem seus custos e aumentarem sua produtividade, &eacute; tamb&eacute;m imprescind&iacute;vel que estimulem seus executivos a serem mais criativos e a intensificarem sua intera&ccedil;&atilde;o social.<br /> <br /> Na busca por se manterem atuais, no topo da cadeia produtiva, alguns executivos t&ecirc;m apelado para o &ldquo;PERSONAL SOCIAL INTERACTIVE (o PSI)&rdquo;, cuja fun&ccedil;&atilde;o &eacute; &ldquo;substituir&rdquo; o executivo (no mais absoluto sigilo) na execu&ccedil;&atilde;o de determinadas atividades que seriam importantes de serem executadas, mas que a disponibilidade de tempo n&atilde;o permite, como alimentar espa&ccedil;os nas redes sociais, ir ao cinema / teatro &amp; eventos sociais / profissionais, ler livros, etc.<br /> <br /> Sim &eacute; isso mesmo: como o tecido social ainda n&atilde;o permite uma transforma&ccedil;&atilde;o de fato, s&atilde;o criados artif&iacute;cios iludindo a si pr&oacute;prio e aos outros (algo como fazer uma cirurgia pl&aacute;stica &ldquo;social&rdquo;) para se adequar aos novos tempos. S&atilde;o exce&ccedil;&otilde;es? N&atilde;o! Em uma sociedade onde a lei permanece a mesma (a competi&ccedil;&atilde;o), mas a forma de cumpri-la muda a cada instante (de workaholics a relax), somente sendo um psicopata para ser &ldquo;bem sucedido&rdquo;. Espantado? N&atilde;o fique.<br /> <br /> J&aacute; fomos predominantemente hist&eacute;ricos, narcisistas e nesse momento de transi&ccedil;&atilde;o (espero) quando os fatores determinantes da inclus&atilde;o / acolhida social est&atilde;o confusos, difusos, temos uma sociedade psicopata, onde transgredir a lei se naturalizou. Os reflexos em nossos cotidianos s&atilde;o v&aacute;rios, como, por exemplo, a corrup&ccedil;&atilde;o que se espalha entre n&oacute;s tal fogo em palha seca, estimulada pelos ventos da incerteza no dia de amanh&atilde;, se naturalizando nos quatro cantos de nosso planeta e em todos os setores de nossa sociedade.<br /> <br /> O ant&iacute;doto: a solidariedade, a qual vem crescendo lenta e solidamente, at&eacute; mesmo por imposi&ccedil;&atilde;o da natureza e, consequentemente, por uma quest&atilde;o de sobreviv&ecirc;ncia da esp&eacute;cie humana. A ferramenta fundamental: a comunica&ccedil;&atilde;o. O personagem central: o publicit&aacute;rio, que gra&ccedil;as a sua intimidade com a cultura de comunica&ccedil;&atilde;o, pode e deve fazer chegar ao cidad&atilde;o comum que &eacute; poss&iacute;vel sim construir um mundo onde seu valor b&aacute;sico n&atilde;o seja a competi&ccedil;&atilde;o / compuls&atilde;o e sim a solidariedade / criatividade, deixando no passado o mundo do &ldquo;ter para ser&rdquo; e festejando a chegada do &ldquo;interagir para existir&rdquo;. Vamos nessa?!<br /> <br /> * Paulo Silveira &eacute; membro da Da Vinci Marketing Social e do Instituto Paulo Freire. <a href="javascript:location.href='mailto:'+String.fromCharCode(100,97,118,105,110,99,105,64,100,97,118,105,110,99,105,109,107,116,115,111,99,105,97,108,46,99,111,109,46,98,114)+'?'">[email protected]</a></p>
Publicidade, Criatividade e Compulsividade
1 de outubro de 2010