A alta inflação, a corrupção nos governos e a falta de estrutura do país são algumas das razões que têm levado milhares de pessoas às ruas para protestar. O que começou com uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus ganhou maiores proporções e estabelece um novo panorama econômico, político e social que exige a atenção dos profissionais de Marketing ao desenvolverem suas estratégias e ações.
Além de gerar paralisações nas cidades, o que impacta nas negociações comerciais, o movimento de insatisfação já está obrigando o governo a adotar medidas para acalmar os ânimos, como a reformulação das tarifas do transporte público e a ênfase em políticas tributárias para evitar o aumento da inflação. “O governo abriu as torneiras para o financiamento da safra agrícola para tentar segurar o preço dos alimentos, então acredito que algumas medidas estão sendo tomadas de forma mais acelerada por causa das manifestações”, avalia Gilberto Braga, Economista e Professor do Ibmec, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Apesar da ocorrência dos protestos em vários estados e de atos pontuais de vandalismo, ainda não há grandes interferências nos investimentos estrangeiros, especialmente pelo fato de eles já estarem acostumados a lidar com situações de mobilizações populares em outros países. “Em um primeiro momento, isso não afugenta o investidor. Por mais que haja uma perplexidade por não julgarem que algo semelhante pudesse ocorrer no Brasil, por outro lado, não há uma radicalização como no passado, com golpes militares e ditadura”, destaca Gilberto Braga.
Por não envolver questões religiosas, como na Turquia, ou outros elementos que possam favorecer um descontentamento que vá além da gestão política, uma grande alteração na estrutura atual do governo é pouco possível. Mesmo assim, as manifestações causam um desconforto político. “A população está demonstrando que não vê credibilidade na classe política e no sistema partidário. Isso não deve atingir a estrutura política partidária, mas exige dos políticos um outro discurso e uma reformulação das estratégias voltadas para as eleições do ano que vem e de suas plataformas políticas”, avalia Rogério Souza, Sociólogo e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Iuperj , em entrevista ao portal.
Para a sociedade, a maior mudança é a consciência de que algo pode ser feito para conseguir que as questões que geram insatisfação sejam resolvidas. “Abriu-se uma porta e de uma forma ou outra ela trará repercussões. A população percebeu que pode tomar as ruas, que tem força e, depois de muito tempo, a população está invertendo a ordem. Não é mais o homem público, seja na esfera do poder legislativo ou executivo, que está pautando as agendas da sociedade. Agora o povo é que está dizendo o que é prioridade no momento”, analisa Rogério Souza.