Pra frente é que se anda 13 de junho de 2013

Pra frente é que se anda

         

Muita coisa acontece em pouco tempo e, talvez em alguns anos, vamos ficar tão impressionados de um dia as empregadas não terem tido fundo de garantia

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Li no jornal: há exatos 50 anos o então governador do estado do Alabama, nos EUA, disse que iria pessoalmente para a porta de uma instituição de ensino pública para barrar a entrada de negros que queriam se matricular, desobedecendo a decisão da suprema corte americana na questão dos direitos civis.

Apenas cinco décadas depois, o presidente Americano é negro e, segundo declarou o raper e produtor musical Americano (e marido da Beyoncé) Jay-Z numa entrevista ao canal VH1, isso amplia muito a capacidade de sonhar dos garotos e garotas negros americanos, que a partir desta geração podem pensar em chegar onde for, até na presidência do maior país do mundo.

Por aqui o nosso supremo tem um negro na presidência e o nosso país foi governado por um torneiro mecânico e agora por uma mulher, o que mostra um país adiantado nas mudanças das relações e evoluído como poucos na mobilidade social. O tão propalado crescimento da classe média brasileira, um caminho sem volta – graças a Deus – também simboliza a nossa entrada na evolução das relações de trabalho e sociais do mundo.

Há algumas semanas o economista sul coreano Ha-Joon Chang declarou em entrevista que "a máquina de lavar mudou mais o mundo do que a internet”, porque, segundo ele, graças a ela as mulheres começaram a ter tempo de sair de casa para trabalhar e desencadearam o processo que mudou pra sempre as relações de trabalho e a sociedade.

Quando a gente vê a série “Malu Mulher” no canal de reprises da TV a cabo, percebe que outro dia mesmo, já na era da TV a cores, a coisa não era nada mole para as mulheres. Vendo a série Mad Men, sobre publicitários da década de 60 na Madison Ave., em Nova York, vemos como a propaganda retratava a família e como ela falava com a mulher, então uma pura e simples dona de casa. E acompanhamos em cada capítulo, achando graça, como as relações foram mudando. Na primeira temporada, as mulheres eram esposas enfadadas ou secretárias enfadadas. Agora elas são criativas e sócias da agência.

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Voltando aos nossos dias e ao mesmo jornal, li no mesmo dia: a PEC das domésticas vem sendo regulamentada com várias sugestões do governo e vai mudando gradativamente as relações entre patrões e empregadas, babás e acompanhantes em geral. Por mais que, incrivelmente, a gente ainda ouça alguns posicionamentos absurdos contra a inclusão destas categorias profissionais no mercado mais formal e justo de trabalho, a verdade é que as mudanças são inevitáveis.

O dono de uma loja de eletrodomésticos está vibrando com o aumento nas vendas de produtos que facilitam o trabalho doméstico, como lava-louças e vassouras elétricas (o que será uma “vassoura elétrica?). Em pouco tempo, talvez em alguns anos, vamos ficar tão impressionados de um dia as empregadas não terem tido fundo de garantia quanto a gente fica hoje quando lê que há apenas 50 anos um governador americano se declarou contra a matrícula de negros em uma instituição que, segundo ele, era exclusivamente “para brancos”.


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