Pessoas cada vez menos ?são? e cada vez mais ?estão? 5 de junho de 2014

Pessoas cada vez menos ?são? e cada vez mais ?estão?

         

O mercado está cada vez mais influenciado por ?ultrassons? que nos enganam e nos mostram homens de lilás e mulheres de ?nude?, jovens de paletós e idosos de minissaias...

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Confesso que visitas a hospitais sempre me deixam tenso e pensativo. Estar com pessoas que talvez estejam indo embora é um exercício de equilíbrio emocional. Mas conhecer alguém que acabou de chegar, também não é fácil. Foi o que percebi no último final de semana.

Ao chegar à maternidade para conhecer o filho recém-nascido de um amigo, já me deparei com algumas alegorias na porta do quarto. Uma camisa do Palmeiras, uma imagem de São Jorge e uma medalha em forma de estrela. No chão, dois vasos de gérberas, meio cansadas.

Olhei tudo isso com reverência e entrei no quarto com minha caixinha de “bem nascidos” em tom neutro.
Lá estava o bebê, sendo amamentado e vestindo um macacão…rosa…

Após os comentários tradicionais sobre o parto, peso e tamanho do “pimpolho”, a mãe explica sem graça a cor da roupinha: “o ultrassom nos enganou e escondeu o “piupiu” do Rodrigo…”

Tentei argumentar que esse negócio da cor ligada ao sexo era coisa do passado. Contei que vi uma coleção para bebês toda em xadrez numa vitrine de shopping e que havia, inclusive, algumas opções customizadas, capazes de mudar o modelo, conforme o humor do “baby”. Nesse momento, a criança deu um grito e nos sinalizou, “quiet please”. Deixei os doces na mesa e sai apressado.

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Passei pela porta, dei uma segunda olhada nos objetos que sinalizavam o “futuro” do Rodrigo e fui caminhando para o elevador. Sempre acredito que na maternidade deve-se levar presentes aos pais e não aos filhos.

Se os pais ficam felizes, vão criar filhos idem e nada melhor do que doces para causar a felicidade. Enquanto esperava o elevador, uma cópia de “Rosa e Azul” de Renoir me espiava na parede. As meninas lindas, serenas, seguras em harmonia com seus vestidos diferentes e complementares.

Fiquei com vontade de tirar o quadro da parede e levar ao quarto do meu amigo. Dizer a ele que rosa ou azul é uma questão pessoal e intransferível, não cabendo aos pais a definição prévia dessa e de outras questões.

Nas empresas, também vejo esse dilema, uma certa ansiedade em conhecer e classificar clientes de maneira técnica e objetiva; recência, frequência e valor de compras para sermos mais óbvios, sem contar o tradicional perfil socioeconômico. Não percebemos que o perfil mais básico, aquele composto pelo sexo, idade ou renda é cada vez menos importante e tem cedido espaço para algo mais comportamental.

O mercado está cada vez mais influenciado por “ultrassons” que nos enganam e nos mostram homens de lilás e mulheres de “nude”, pobres de grife e ricos de t-shirts, jovens de paletós e idosos de minissaias… Enfim, as pessoas cada vez menos “são” e cada vez mais “estão”. Precisamos entender isso.

Afinal de contas quem pode dizer se o Rodrigo será palmeirense, católico e supersticioso? Será ele mesmo, daqui a alguns anos e motivado pelo impacto que das marcas em seu cérebro e, sobretudo, em seu coração.

Por isso, não se antecipe em classificar seus clientes logo na porta de entrada. Permita que eles se mostrem e se relacionem de formas variadas para que a sua relação com eles seja tão valiosa quanto uma obra de arte.

Pesquisas, Comportamento do Consumidor
 

 


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