Me considero um sortudo. Desde que nasci, sou rodeado por mulheres admiráveis que, de uma forma ou de outra, me influenciaram. A começar pela minha mãe, Dona Maria Alda Kotait. Por ser de uma família de imigrantes – Portugal -, logo cedo precisou ajudar nos proveitos da casa: começou a trabalhar nos negócios da família, como ‘caixa’ do restaurante do meu avô. O trabalho trouxe bons frutos: independência financeira e o grande amor da vida dela: meu pai. Cliente do restaurante, ele se apaixonou pela comida e por minha mãe. Desde sempre, portanto, Dona Maria Alda é uma mulher autônoma. A palavra empoderada, tão usada hoje em dia, faz parte do meu vocabulário há anos.
Minha filha, Maria Eduarda, e minha esposa, Daniele, também, às suas maneiras, me influenciam muito. Aprendi desde cedo a ver as mulheres sob um olhar de admiração.
A minha carreira também é pautada pela presença de mulheres fortes. Na Sony, 70% do meu time era composto por mulheres. As duas pessoas que mais me ajudaram no primeiro trabalho, na TVA, foram mulheres: Cecília Moraes e Márcia Mattoso.
No Terra e na Turner, respondia diretamente para duas profissionais, que fizeram uma diferença enorme no que eu viria a me tornar profissionalmente. Gretchen Colón (Turner) e Flavia Verginelli (Terra) abriram os meus olhos para o mundo. Era 1998 e no Brasil ainda nem se usava e-mail. Bons tempos!
A Gretchen acreditou em mim e me incentivou a fazer a primeira operação de uma empresa de pay-tv internacional no Brasil. Ganhei espaço, flexibilidade, liberdade de trabalho. Ja a Flávia, me ensinou a pensar grande, ter “cara de pau” e pedir mais. Me ensinou muito sobre o mundo digital e me deu todo o respaldo para entrar num ambiente digital e ser ouvido – mesmo tudo sendo absolutamente novo para mim.
Hoje, na Viacom, sou rodeado por mulheres. Metade do corpo diretivo da Viacom é composto por mulheres – fortes, cúmplices, líderes. E posso garantir que todas no mesmo nível salarial que homens que ocupam cargos similares. Mas sei que a Viacom é uma exceção. Há, porém, e não tem como negar, um caminho árduo a ser percorrido pelas mulheres no que diz respeito à igualdade salarial de gênero.
Nós da Viacom já começamos por essa estrada. Há dois anos, lançamos uma campanha que pretende aquecer as discussões sobre questões femininas. Por trás da hashtag #PqMulher, há um conceito que rege todas as iniciativas desenvolvidas, procura encorajar o público a refletir e, sobretudo, a participar da conversa completando a frase com insights como ‘#PqMulher pode’, ‘#PqMulher lidera’, ‘#PqMulher ganha menos?’, ‘#PqMulher quer se divertir’, ‘#PqMulher precisa ser ouvida’, ‘#PqMulher é sexo frágil?’, etc.
Já abordamos temas como “diferentes tipos de assédio sofrido pelas mulheres (na rua, transporte público, trabalho, nas redes sociais)”, igualdade no mercado de trabalho e sororidade. Acredito que todos devam fazer a sua parte, colaborar de alguma forma.
O lado bom de tudo isso, se assim considerarmos, é que as mulheres estão cada vez mais na luta e eu admiro essa força toda, esse movimento. É necessário um processo de aprendizagem social amplo para assimilar que o perfil de liderança compete aos dois gêneros. Uma liderança independe de gênero. Ela depende de seres humanos, isso sim.