<p>Por Rodrigo Batalha*<br /> <br /> Aguardando meu voo no aeroporto de Congonhas, assisti uma mat&eacute;ria ao vivo onde o apresentador de um telejornal questiona uma psic&oacute;loga sobre a raz&atilde;o das pessoas estarem se apegando a objetos materiais e ao dinheiro cada vez mais. Ressalta que &eacute; uma condi&ccedil;&atilde;o inconsciente e questiona at&eacute; que ponto dinheiro traz felicidade.<br /> <br /> A psic&oacute;loga responde que tal apego &eacute; devido a cultura moderna do individualismo, de uma vida cada vez mais egoc&ecirc;ntrica, ao contr&aacute;rio do pensamento coletivo, familiar, e da sociedade como um todo. Em sua opini&atilde;o isso provoca o aumento do materialismo existente. No final, orienta as pessoas a pensarem mais em emo&ccedil;&otilde;es e sentimentos, em buscar felicidade, ao inv&eacute;s de tanto foco no dinheiro. E solta a velha frase: &ldquo;dinheiro n&atilde;o traz felicidade&rdquo;, pra fechar a reportagem.<br /> <br /> Veja que caso interessante de se analisar. Respeito todo tipo de manifesta&ccedil;&atilde;o e opini&atilde;o, assim como a da psic&oacute;loga em quest&atilde;o, mas entendo de forma um pouco mais pontual esse emaranhado de informa&ccedil;&otilde;es transmitidas. Se fizermos passo a passo o caminho que percorre a mente humana neste processo, podemos identificar uma etapa interessante, e nos presentear com a seguinte pergunta: o que &eacute; o dinheiro?<br /> <br /> O dinheiro em primeiro lugar &eacute; in&uacute;til se visto de forma material, pois se o tivermos em nossas m&atilde;os sem poder gasta-lo, nada poderemos proporcionar. Olhando por esse par&acirc;metro dinheiro n&atilde;o &eacute; gostoso, n&atilde;o tem bancos de couro, n&atilde;o traz informa&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o &eacute; sexy e nem tem imagem paradis&iacute;aca. &Eacute; apenas papel, e numa ilha deserta s&oacute; serviria para fazer fogueira.<br /> <br /> Por outro lado o dinheiro &eacute; o que chamo de &ldquo;valor meio&rdquo;, que nos da a oportunidade de alcan&ccedil;ar &ldquo;valores fins&rdquo; como seguran&ccedil;a, liberdade, aventura e paix&atilde;o. E quem disse que isso tudo n&atilde;o se traduz em felicidade? No fundo, quem quer dinheiro quer o que ele proporciona em termos emocionais. E o que &eacute; felicidade, se n&atilde;o um estado emocional? Mas obviamente o dinheiro n&atilde;o compra tudo.<br /> <br /> Por outro lado, j&aacute; percebeu quantas pessoas extremamente apegadas ao dinheiro se transformaram depois que algum ente querido faleceu? Souberam afinal equilibrar sua lista de prioridades entre valores fins e valores meios. Perceberam que sem vida, dinheiro pra nada serve. <br /> <br /> J&aacute; algumas outras tem o dinheiro como um valor fim, e por isso vivem infelizes mesmo milion&aacute;rias, pois o dinheiro n&atilde;o se transforma em emo&ccedil;&otilde;es, muito menos proporcionam emo&ccedil;&otilde;es a si e a outros que necessitam. E esta seria uma maneira fant&aacute;stica de transformar um valor meio num valor fim altamente nobre: contribui&ccedil;&atilde;o.<br /> Mas lamentavelmente quando o dinheiro &eacute; visto como um valor fim, as pessoas nem sabem o que fazer com ele.<br /> <br /> Em outros casos o dinheiro &eacute; apenas um valor meio pra se obter um valor fim chamado &ldquo;sensa&ccedil;&atilde;o de poder&rdquo;. E depois que o possuem, mal sabem usar. Curioso n&eacute;? A grande quest&atilde;o &eacute; que a maioria das pessoas confunde valores meios com valores fins, e acabam conjecturando toda uma estrutura de ideias superficiais se esquecendo que por tr&aacute;s de cada valor existe um objetivo emocional, quando n&atilde;o o &eacute;.&nbsp; No fundo o ser humano &eacute; assim, sempre voltado consciente ou subconscientemente para seu bem estar emocional. Mas o pior: n&atilde;o conhece seus pr&oacute;prios valores, e por isso sofrem.<br /> <br /> No meio corporativo &eacute; natural essa confus&atilde;o de valores. As pessoas objetivam um valor e acabam fazendo op&ccedil;&otilde;es que na pr&aacute;tica lhe proporcionam outros valores totalmente diferentes, e com isso, sentem-se infelizes. Portanto, se no final de um projeto de vida voc&ecirc; se der conta que anda infeliz, reveja a prioridade de seus valores e n&atilde;o confunda valores meios com valores fins. <br /> <br /> Um grande desafio &eacute; quando as pessoas tra&ccedil;am planos sem saberem o que no fundo elas intimamente prezam na vida, ou seja, quais s&atilde;o realmente seus valores. E depois do objetivo conquistado ficam se perguntando: acabou, era s&oacute; isso? E assim a vida passa, com muitos valores meios sendo altamente blindados, enquanto valores fins continuam ignorados.<br /> <br /> * Rodrigo Batalha &eacute; Performance Coach especializado em Condicionamento Neuroassociativo pela Robbins Research International (LA). &Eacute; p&oacute;s-graduado em Gest&atilde;o Empresarial e autor de &ldquo;Medo &ndash; O Controle em Suas M&atilde;os&rdquo; &ndash; Editora Saraiva.</p>
O valor do dinheiro
22 de novembro de 2010