<p>Por Marcelo Cherto*<br /> <br /> Muito j&aacute; foi dito e escrito a respeito da import&acirc;ncia da ousadia e da persist&ecirc;ncia para quem quer empreender, seja criando um novo neg&oacute;cio, ou mesmo na empresa onde trabalha. Para provar que vale a pena cultivar essa caracter&iacute;stica essencial aos empreendedores, conto aqui uma hist&oacute;ria verdadeira, que j&aacute; relatei em outras ocasi&otilde;es, mas acredito que vale a pena repetir, para, quem sabe, servir de inspira&ccedil;&atilde;o a algum leitor.<br /> <br /> Nasci numa fam&iacute;lia de advogados. A advocacia, para mim, n&atilde;o foi exatamente um caso de voca&ccedil;&atilde;o: foi mais um Karma. Eu n&atilde;o gostava muito da coisa, mas era bom nela. E, enquanto n&atilde;o descobria outra coisa para fazer, fiz o melhor que podia e procurei me tornar um pouco melhor a cada dia. Ali&aacute;s, descobri a exist&ecirc;ncia do Franchising – que mudou radicalmente a minha vida -&nbsp; quando cursava o Mestrado em Direito na New York University, nos EUA. <br /> <br /> Sa&iacute; da pacata cidade praiana de Santos direto para Manhattan para fazer um est&aacute;gio na &aacute;rea internacional de um grande banco e, em seguida, emendar com o tal Mestrado em Direito. E me vi, numa manh&atilde; especialmente gelada, escolhendo as poucas mat&eacute;rias eletivas que iria cursar. Desacostumado com aquele frio de matar e com 23 anos de idade, escolhi aquelas que, pelo hor&aacute;rio, me permitiriam ficar um pouquinho mais na cama. O Universo conspirou a meu favor: foi numa dessas aulas que tive meu primeiro encontro com o Franchising. E que, sem que eu percebesse, minha vida come&ccedil;ou a mudar. <br /> <br /> Sabia que precisava encontrar um nicho de mercado, ou seria apenas mais um. E decidi que seria o primeiro advogado brasileiro especializado no tema. Problema: n&atilde;o havia muitos franqueadores atuando no Brasil no final da d&eacute;cada de 1970. Isso tornava um bocado dif&iacute;cil a execu&ccedil;&atilde;o do meu plano. <br /> <br /> Mas Deus sempre colocou no meu caminho as pessoas certas na hora certa. Tive que esperar alguns anos at&eacute; surgir a oportunidade de concretizar meu sonho, mas n&atilde;o desisti. Em 1986, me tornei Diretor Jur&iacute;dico da ABA – Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Anunciantes. Um de meus colegas de diretoria era o Prof. Marcos Cobra, da FGV, que na &eacute;poca trabalhava com Milton Mira, ent&atilde;o diretor da Editora McGraw-Hill, na cria&ccedil;&atilde;o de uma cole&ccedil;&atilde;o de livros de Marketing escritos por brasileiros para brasileiros. <br /> <br /> Cobra me indicou para redigir o volume sobre os &ldquo;Aspectos Jur&iacute;dicos do Marketing no Brasil&rdquo;. E Milton me pediu que, antes de mais nada, redigisse um dos cap&iacute;tulos do tal livro, para ver se eu levava jeito para a coisa. Escolhi o cap&iacute;tulo que tratava dos Aspectos Jur&iacute;dicos do Franchising e caprichei. Ao termin&aacute;-lo, conclu&iacute; que n&atilde;o queria escrever a obra que me havia sido encomendada, e tive a ousadia de propor um livro inteiro sobre franquias&nbsp; – tema, &agrave;quela altura, praticamente desconhecido por aqui. Milton topou e, em 1988, a McGraw publicou meu primeiro livro: &ldquo;Franchising &ndash; Uma Revolu&ccedil;&atilde;o no Marketing&rdquo;. O primeiro livro sobre Franquia publicado em l&iacute;ngua Portuguesa.<br /> <br /> Enquanto trabalhava no livro, comecei a coordenar um grupo de empres&aacute;rios e executivos que se reunia uma vez por m&ecirc;s para trocar id&eacute;ias. E, em julho de 1987, junto com oito desses parceiros de bate-papo, fundei a ABF – Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Franchising, a partir da qual o mercado brasileiro de franquias se tornou o que &eacute;. <br /> <br /> Por&eacute;m, tivemos que superar alguns obst&aacute;culos. E o fizemos gra&ccedil;as &agrave; nossa persist&ecirc;ncia e ousadia. Sem que soub&eacute;ssemos, no Rio de Janeiro, outro grupo, coordenado por uma consultoria que j&aacute; n&atilde;o existe mais, fundou, poucos meses depois do nascimento da ABF, uma certa AFRAB &ndash; Associa&ccedil;&atilde;o dos Franqueadores do Brasil. E, aproveitando-se de um cochilo do nosso, obteve o reconhecimento da IFA, a Associa&ccedil;&atilde;o Internacional de Franchising. <br /> <br /> Aquilo foi um golpe na nossa jugular. Naquela altura, era claro que a ABF dificilmente teria futuro sem o reconhecimento da IFA. E esta s&oacute; reconhecia uma &uacute;nica associa&ccedil;&atilde;o por pa&iacute;s. Est&aacute;vamos fritos. A&iacute; &eacute; que entram novamente&nbsp; a persist&ecirc;ncia e a ousadia: viajei por conta pr&oacute;pria at&eacute; Washington, onde fica a sede da IFA. E l&aacute; fiquei sabendo que, al&eacute;m de reconhecer uma &ldquo;associa&ccedil;&atilde;o-irm&atilde;&rdquo;, os gringos tamb&eacute;m costumavam nomear um Representante Especial em cada pa&iacute;s onde o mercado de franquias o justificasse. <br /> <br /> Em cada pa&iacute;s, o Representante Especial era um advogado local, cuja principal tarefa consistia em enviar &agrave; IFA, mensalmente, um relat&oacute;rio dando conta de qualquer atividade do Legislativo, Executivo ou Judici&aacute;rio do respectivo pa&iacute;s que pudesse, de alguma forma, afetar a pr&aacute;tica do Franchising. Me candidatei ao cargo, achando que, se fosse nomeado, isso poderia ser &ldquo;vendido&rdquo; ao mercado brasileiro como uma forma de reconhecimento da ABF pela IFA, j&aacute; que eu era fundador e Vice-Presidente Jur&iacute;dico daquela.<br /> <br /> S&oacute; que os americanos j&aacute; tinham em m&atilde;os uma longa lista com nomes de advogados brasileiros, todos integrantes de escrit&oacute;rios de renome, recomendados pela diretoria da tal AFRAB ou por franqueadores americanos com interesses no Brasil. Caso meu nome chegasse a ser inclu&iacute;do nessa lista, estaria em &uacute;ltimo lugar e com pouqu&iacute;ssima chance de ser o escolhido.<br /> <br /> No v&ocirc;o de volta, resolvi que n&atilde;o adiantava &ldquo;curtir fossa&rdquo; e coloquei a cabe&ccedil;a para funcionar na busca de uma sa&iacute;da. Mal desembarquei em S&atilde;o Paulo, elaborei um primeiro relat&oacute;rio sobre a atividade judici&aacute;ria e legislativa no Brasil nos 30 dias anteriores. Mesmo sem saber qual seria o formato correto, enviei esse relat&oacute;rio &agrave; IFA. Por fax, j&aacute; que naquele tempo ainda n&atilde;o havia e-mail. Dias depois, recebi, tamb&eacute;m por fax, um agradecimento e um pedido de informa&ccedil;&otilde;es complementares, que coletei e enviei na mesma hora.<br /> <br /> No m&ecirc;s seguinte, redigi e enviei &agrave; IFA um novo relat&oacute;rio, desta vez um pouco mais completo e mais no jeit&atilde;o que eles queriam. Um m&ecirc;s depois, a mesma coisa. E assim por diante. Durante uns 6 meses atuei como se j&aacute; ocupasse o cargo para o qual queria ser nomeado. Sabia que podia n&atilde;o dar em nada. Mas acreditei que valia a pena persistir. At&eacute; que, um dia, recebi um documento oficial que me nomeava Special Representative da IFA no Brasil, cargo que fui o &uacute;nico a exercer, enquanto existiu. O que houve com a AFRAB? H&aacute; muito tempo foi incorporada pela ABF. <br /> <br /> Desse epis&oacute;dio, podemos extrair tr&ecirc;s li&ccedil;&otilde;es: (1) h&aacute; quem diga que sorte &eacute; quando a oportunidade bate &agrave; sua porta e voc&ecirc; abre. Mas a vida me ensinou que muitas vezes &eacute; preciso tirar o traseirinho da cadeira e construir a tal porta, para poder sair por ela em busca da oportunidade que, por algum motivo, se esqueceu de vir procur&aacute;-lo; (2) nos neg&oacute;cios e na vida, como nos esportes, quem se antecipa e se posiciona em condi&ccedil;&atilde;o legal de marcar o ponto quase sempre tem prefer&ecirc;ncia para receber o passe; e (3) quando quiser muito alguma coisa, use a cabe&ccedil;a, trace um plano ousado e realista e persista, n&atilde;o desistindo enquanto n&atilde;o chegar aonde quer. O pior n&atilde;o &eacute; fracassar. O pior &eacute; nem tentar. <br /> <br /> * Marcelo Cherto &eacute; CEO da <a href="http://www.growbiz.com.br" target="_blank">GrowBiz</a>, diretor da <a href="http://www.franchisestore.com.br" target="_blank">Franchise Store</a> e s&oacute;cio da <a href="http://www.md.com.br" target="_blank">MD Comunica&ccedil;&atilde;o</a>. &Eacute; tamb&eacute;m membro da Academia Brasileira de Marketing e do Global Advisory Board da Endeavor. </p>
O pior não é falhar, é não tentar
26 de novembro de 2009