O pior não é falhar, é não tentar 26 de novembro de 2009

O pior não é falhar, é não tentar

         

Conto aqui uma história verdadeira, que já relatei em outras ocasiões, mas acredito que vale a pena repetir, para, quem sabe, servir de inspiração a algum leitor

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<p>Por Marcelo Cherto*<br /> <br /> Muito já foi dito e escrito a respeito da importância da ousadia e da persistência para quem quer empreender, seja criando um novo negócio, ou mesmo na empresa onde trabalha. Para provar que vale a pena cultivar essa característica essencial aos empreendedores, conto aqui uma história verdadeira, que já relatei em outras ocasiões, mas acredito que vale a pena repetir, para, quem sabe, servir de inspiração a algum leitor.<br /> <br /> Nasci numa família de advogados. A advocacia, para mim, não foi exatamente um caso de vocação: foi mais um Karma. Eu não gostava muito da coisa, mas era bom nela. E, enquanto não descobria outra coisa para fazer, fiz o melhor que podia e procurei me tornar um pouco melhor a cada dia. Aliás, descobri a existência do Franchising – que mudou radicalmente a minha vida -  quando cursava o Mestrado em Direito na New York University, nos EUA. <br /> <br /> Saí da pacata cidade praiana de Santos direto para Manhattan para fazer um estágio na área internacional de um grande banco e, em seguida, emendar com o tal Mestrado em Direito. E me vi, numa manhã especialmente gelada, escolhendo as poucas matérias eletivas que iria cursar. Desacostumado com aquele frio de matar e com 23 anos de idade, escolhi aquelas que, pelo horário, me permitiriam ficar um pouquinho mais na cama. O Universo conspirou a meu favor: foi numa dessas aulas que tive meu primeiro encontro com o Franchising. E que, sem que eu percebesse, minha vida começou a mudar. <br /> <br /> Sabia que precisava encontrar um nicho de mercado, ou seria apenas mais um. E decidi que seria o primeiro advogado brasileiro especializado no tema. Problema: não havia muitos franqueadores atuando no Brasil no final da década de 1970. Isso tornava um bocado difícil a execução do meu plano. <br /> <br /> Mas Deus sempre colocou no meu caminho as pessoas certas na hora certa. Tive que esperar alguns anos até surgir a oportunidade de concretizar meu sonho, mas não desisti. Em 1986, me tornei Diretor Jurídico da ABA – Associação Brasileira de Anunciantes. Um de meus colegas de diretoria era o Prof. Marcos Cobra, da FGV, que na época trabalhava com Milton Mira, então diretor da Editora McGraw-Hill, na criação de uma coleção de livros de Marketing escritos por brasileiros para brasileiros. <br /> <br /> Cobra me indicou para redigir o volume sobre os “Aspectos Jurídicos do Marketing no Brasil”. E Milton me pediu que, antes de mais nada, redigisse um dos capítulos do tal livro, para ver se eu levava jeito para a coisa. Escolhi o capítulo que tratava dos Aspectos Jurídicos do Franchising e caprichei. Ao terminá-lo, concluí que não queria escrever a obra que me havia sido encomendada, e tive a ousadia de propor um livro inteiro sobre franquias  – tema, àquela altura, praticamente desconhecido por aqui. Milton topou e, em 1988, a McGraw publicou meu primeiro livro: “Franchising – Uma Revolução no Marketing”. O primeiro livro sobre Franquia publicado em língua Portuguesa.<br /> <br /> Enquanto trabalhava no livro, comecei a coordenar um grupo de empresários e executivos que se reunia uma vez por mês para trocar idéias. E, em julho de 1987, junto com oito desses parceiros de bate-papo, fundei a ABF – Associação Brasileira de Franchising, a partir da qual o mercado brasileiro de franquias se tornou o que é. <br /> <br /> Porém, tivemos que superar alguns obstáculos. E o fizemos graças à nossa persistência e ousadia. Sem que soubéssemos, no Rio de Janeiro, outro grupo, coordenado por uma consultoria que já não existe mais, fundou, poucos meses depois do nascimento da ABF, uma certa AFRAB – Associação dos Franqueadores do Brasil. E, aproveitando-se de um cochilo do nosso, obteve o reconhecimento da IFA, a Associação Internacional de Franchising. <br /> <br /> Aquilo foi um golpe na nossa jugular. Naquela altura, era claro que a ABF dificilmente teria futuro sem o reconhecimento da IFA. E esta só reconhecia uma única associação por país. Estávamos fritos. Aí é que entram novamente  a persistência e a ousadia: viajei por conta própria até Washington, onde fica a sede da IFA. E lá fiquei sabendo que, além de reconhecer uma “associação-irmã”, os gringos também costumavam nomear um Representante Especial em cada país onde o mercado de franquias o justificasse. <br /> <br /> Em cada país, o Representante Especial era um advogado local, cuja principal tarefa consistia em enviar à IFA, mensalmente, um relatório dando conta de qualquer atividade do Legislativo, Executivo ou Judiciário do respectivo país que pudesse, de alguma forma, afetar a prática do Franchising. Me candidatei ao cargo, achando que, se fosse nomeado, isso poderia ser “vendido” ao mercado brasileiro como uma forma de reconhecimento da ABF pela IFA, já que eu era fundador e Vice-Presidente Jurídico daquela.<br /> <br /> Só que os americanos já tinham em mãos uma longa lista com nomes de advogados brasileiros, todos integrantes de escritórios de renome, recomendados pela diretoria da tal AFRAB ou por franqueadores americanos com interesses no Brasil. Caso meu nome chegasse a ser incluído nessa lista, estaria em último lugar e com pouquíssima chance de ser o escolhido.<br /> <br /> No vôo de volta, resolvi que não adiantava “curtir fossa” e coloquei a cabeça para funcionar na busca de uma saída. Mal desembarquei em São Paulo, elaborei um primeiro relatório sobre a atividade judiciária e legislativa no Brasil nos 30 dias anteriores. Mesmo sem saber qual seria o formato correto, enviei esse relatório à IFA. Por fax, já que naquele tempo ainda não havia e-mail. Dias depois, recebi, também por fax, um agradecimento e um pedido de informações complementares, que coletei e enviei na mesma hora.<br /> <br /> No mês seguinte, redigi e enviei à IFA um novo relatório, desta vez um pouco mais completo e mais no jeitão que eles queriam. Um mês depois, a mesma coisa. E assim por diante. Durante uns 6 meses atuei como se já ocupasse o cargo para o qual queria ser nomeado. Sabia que podia não dar em nada. Mas acreditei que valia a pena persistir. Até que, um dia, recebi um documento oficial que me nomeava Special Representative da IFA no Brasil, cargo que fui o único a exercer, enquanto existiu. O que houve com a AFRAB? Há muito tempo foi incorporada pela ABF. <br /> <br /> Desse episódio, podemos extrair três lições: (1) há quem diga que sorte é quando a oportunidade bate à sua porta e você abre. Mas a vida me ensinou que muitas vezes é preciso tirar o traseirinho da cadeira e construir a tal porta, para poder sair por ela em busca da oportunidade que, por algum motivo, se esqueceu de vir procurá-lo; (2) nos negócios e na vida, como nos esportes, quem se antecipa e se posiciona em condição legal de marcar o ponto quase sempre tem preferência para receber o passe; e (3) quando quiser muito alguma coisa, use a cabeça, trace um plano ousado e realista e persista, não desistindo enquanto não chegar aonde quer. O pior não é fracassar. O pior é nem tentar. <br /> <br /> * Marcelo Cherto é CEO da <a href="http://www.growbiz.com.br" target="_blank">GrowBiz</a>, diretor da <a href="http://www.franchisestore.com.br" target="_blank">Franchise Store</a> e sócio da <a href="http://www.md.com.br" target="_blank">MD Comunicação</a>. É também membro da Academia Brasileira de Marketing e do Global Advisory Board da Endeavor. </p>


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