O Anabolizante, a Empresa e o Espelho 29 de outubro de 2007

O Anabolizante, a Empresa e o Espelho

         

O maior problema de uma empresa é o alpinismo corporativo. O sucesso a qualquer preço.

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Autor: Jonatas Abbott

Numa sociedade Hollywood somos julgados por “O Sucesso”. Como aquele cigarro… O que vale, mais do que nunca, é o que parecermos ser e não o que somos. Numa sociedade embalada pela propaganda, precisamos vencer, a qualquer preço. Vencer a qualquer preço.

Marion Jones, aquela que ganhou 5 medalhas na Olimpíada de Sidney de 2000, acaba de, aos prantos, assumir que mentiu para os investigadores e que tomou sim anabolizantes que na época eram indetectáveis pelos exames. Lembro e revi o sorriso campeão, brilhante, sem a menor sombra de culpa da linda Marion (foto abaixo). Seu dente supra-numerário, aquele que sobra como um a mais na boca, aparecendo em todas as fotografias como que mortalizando aquela deusa do atletismo. Linda. Linda e Vencedora. Linda, vencedora e ídolo de uma juventude. Linda, vencedora, mentirosa e corrupta. E agora ela chora ??? Nos poupe Marion!

Sim, ela não sentiu a menor culpa de enganar a todos, a uma geração inteira, enganar a crianças que lhe tomaram como exemplo. A vitória era legítima certo ? O importante é vencer. Isso a sociedade tem ensinado a tantas Marion’s de todo o mundo. Vença, não importa como, diz o anúncio fantasma que está por trás da simbologia da propaganda moderna.

Pise nos outros mas vença. Engane uma criança mas vença. Com sorte você burla o exame anti-doping e escreverá a história. Porque a história é escrita pelos vencedores certo? Ou seria mais correto dizer que pelo poder econômico? Uma coisa está aliada a outra, muitas vezes. Quantos milhões em patrocínio Marion angariou com seu sucesso?

O pior mesmo são as crianças. Tanto os jovens que acreditam e seguem as Marion’s no esporte como os jovens que idolatram os executivos de empresa. Testemunhei várias situações assim na minha vida corporativa e por 2 vezes pedi demissão por falta de estômago. Pior, fui duramente criticado nas duas vezes por pessoas que respeito muito. “Jonatas, você tem que engolir alguns sapos para atingir o sucesso”, “Jonatas, se você pedir demissão vai perder dinheiro, agüenta” . “Jonatas, não seja radical, as coisas são assim” E eu agüentei o que pude. Mas a lição que aprendi foi que o dinheiro tem limite. Qual o limite ? O limite do estupro moral. O limite do estômago.

E aprendi mais, que assinalar este limite faz você perder dinheiro e ganhar respeito e credibilidade. E aprendi que respeito e credibilidade trazem dinheiro.

Mesmo que você não participe do que é feio ás vezes o simples fato de estar na empresa, SABER o que foi feito basta para que você não queira fazer parte daquilo tudo.

Pior, vi muito jovens se estuprarem. Traírem a si mesmos, à sua juventude e `a seus colegas em nome do sucesso. Não raro capitaneados por alguém mais velho que somente no fim do arco íris mostrará que não existe ouro. O mais velho usa o jovem, usurpa sua inocência, tira-lhe a criatividade. Rouba suas idéias. O jovem é o anabolizante do executivo velho, decadente e com mente estéril. Estéril de idéias e de moral.

Pior, quem se recusa a fazer parte deste todo é taxado de radical. Conheço muitos que toparam o jogo. Alguns conseguem se manter “do bem” mesmo testemunhando injustiças. Outros, muito talentosos, sucumbiram ao sistema e só sabem fazer pisando e traindo. Aos poucos o tempo se encarrega deles. Muitos não tiveram opção. Com família para criar e poucas posses se obrigaram a seguir em frente mantendo a própria moral. Faz parte. Ou não.

Outros se arrependeram e tentaram resgatar o irresgatável. Como a amizade. Para uma amizade não existe UNDO, não tem botão VOLTAR. É uma vez só. É máquina de escrever e não computador. Alguém também disse que “uma reputação se leva uma vida para construir e 5 minutos para destruir”. Marion Jones que o diga.

Um executivo mais velho e mais experiente tem uma imensa responsabilidade dentro de uma empresa. Sobre os jovens desta empresa. Não importa a faculdade, a escola e a família. A empresa atualmente tem condições de imprimir definitivamente características ao caráter de um jovem. Tem um poder esmagador sobre a sua moral futura, ou ética se preferirem outro termo para o mesmo cerne.

Se você é jovem aprenda que existem coisas que não mudam. Fazer o certo por exemplo. Como nos ensinavam antigamente lembra ? Se olhe no espelho ao acordar e diga esta frase como um mantra. Faça o certo para você, para o resultado de sua empresa e para os outros que o cercam. E aprenda o que muitos executivos velhos não aprenderam no seu tempo. O sucesso é chegar a uma idade mais avançada e ainda se olhar no espelho. E tem muito a ver com sua rede de relacionamentos, com uma história corporativa e por isso mesmo não há atalhos para ele.

O sucesso não é foco, é resultado. O trabalho, a qualidade da sua vida, inclusive dentro da empresa em que trabalha, é o foco. Fazer algo com o seu trabalho, construir algo.Para você, para a sociedade, para os outros e para os jovens. Contaminar a todos de alegria, trabalho, resultado e ética. Fazer de sua família o foco e de sua equipe uma família.

As “Marion Jones “ estão em toda a parte. Chegar lá desta forma é fácil. Tentar “chegar lá” sem anabolizante é que é o maior barato. Depois de chegar perde a graça. O grande barato é a batalha e não o troféu. É a corrida e não o pódio. Pense nisso. Viva, curta. A maior parte de sua vida será dentro de uma empresa. Faça a diferença, focando no resultado. Estendendo a mão e valorizando a ética, a moral e o que é certo acima de tudo. Você chegará lá, ou (o que é ainda melhor) se divertirá muito tentando. E ganhará o suficiente para comprar um enorme, límpido e verdadeiro espelho.

Diferente do esporte a empresa tem um único anti-doping. Você. Não se deixe burlar.

Ahhh, ei! Executivo sanguessuga e dopado. É com você que estou falando agora. Faça o que fizer assim como a Marion Jones, só nos poupe de uma coisa. Depois não chore!! 

Mario Jones sorrindo em 2000 e seu espelho Imagem verdadeira em 2007,
o choro da enganadora

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