Não está sobrando dinheiro no bolso de brasileiros 21 de maio de 2014

Não está sobrando dinheiro no bolso de brasileiros

         

Maior parte das despesas da Classe C ainda está relacionada à manutenção do lar, o que mantém uso do crédito ? e endividamento - na compra de itens mais caros

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Apesar da euforia do mercado com a ascensão da Classe C nos últimos anos, os resultados do consumo mostram que não está sobrando dinheiro no bolso dos brasileiros. Os maiores gastos das famílias estão concentrados na manutenção do lar. Este ano, um quarto da renda deve ficar comprometido com necessidades diárias, que vão desde o pagamento do aluguel, à compra de supermercado, aquisição de roupas e realização de pequenos reparos no imóvel, além das contas de TV a cabo e telefones celulares.

Já o crescimento do consumo de itens mais caros, que alavancou o status social dos emergentes nos últimos anos, continua baseado nas políticas de concessão de crédito. Consequentemente, parte do dinheiro do consumidor das classes populares que não está comprometido com os gastos domésticos acaba sendo utilizado no pagamento de dívidas de compras parceladas. Ao mesmo passo que o crédito abre espaço para novas categorias de consumo, ele também apresenta riscos como os juros e a inadimplência.

O cenário não é de bonança financeira para o consumidor final. O dinheiro que circula pelas mãos das famílias, contudo, é cada vez mais representativo para a economia nacional. O potencial de consumo dos lares brasileiros já vem crescendo em ritmo mais acelerado do que o da economia nacional há uma década. “O cenário se estabeleceu em 2004, quando essa representação chegou a 50% do PIB. Em 2014, os gastos dos domicílios devem representar 62% do Produto Interno Bruto”, diz Marcos Pazzini, Diretor do IPC Marketing, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Ascenção da classe B
O fenômeno da ascensão da classe C na década passada foi um agente importante do fortalecimento do consumo familiar. O movimento se repete agora, só que em direção à Classe B. Em 2014, esta camada deve representar 35,4% da população, enquanto era 32,4% no ano passado. Consequentemente, a Classe C sofreu uma redução no número de integrantes em dois pontos percentuais no período.

Isso não significa que pessoas tenham deixado de emergir das Classes D e E, mas o movimento perdeu força. “A migração da base da pirâmide continua acontecendo em direção à Classe C, mas na participação no consumo brasileiro é a Classe B que se destaca, respondendo por mais de 50% dela. Esta parcela deve, por isso, ser tratada com carinho”, diz o Diretor da IPC Marketing.

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Com uma classe B emergente, as empresas devem estar atentas às reais preferências dela. Apesar de ter mais dinheiro disponível e mais estabilidade social, estes consumidores mantêm sua cultura de consumo herdada da Classe C. Eles continuam dedicando boa parte da renda a itens como alimentação no lar, eletrônicos e materiais de construção. “A mentalidade ainda é de quem emergiu, fazendo com que o preço seja um aspecto muito valorizado”, aponta Marcos Pazzini.

Nordeste: região mais promissora
A mobilidade social das famílias também alterou a divisão de consumo entre os estados. O Nordeste é a região que se mostra mais promissora em 2014, de acordo com a pesquisa do IPC Marketing. Essa área foi responsável, em 2013, por 18,2% do consumo nacional. A localidade subiu para a segunda colocação, atrás do Sudeste e ultrapassando o Sul. “O pensamento era de que o aumento de renda da população pobre do Nordeste era uma bolha. O tempo passou, no entanto, e a região se manteve na mesma posição”, avalia Marcos Pazzini.

Para este ano, a expectativa é de que a participação seja ainda maior, chegando a 19,6% do consumo. “O Nordeste sempre teve uma dimensão muito significativa em relação a número de habitantes, área geográfica e número de municípios, mas a participação dessa região no consumo era muito baixa. Até 2007, aparecia em terceiro lugar”, diz o Diretor da IPC Marketing.

O momento de crescimento mudou também o olhar das empresas sobre a região. As companhias que tinham suas operações centralizadas no Sudeste passam agora a enxergar o potencial do Nordeste e intensificam seus investimentos. Os representantes comerciais dão lugar a operações mais robustas. “As empresas que tratavam este mercado com atendimento via representante começam a preparar equipes e instalações próprias”, aponta Marcos Pazzini.

A presença das empresas amplia também as possibilidades de renda e as oportunidades de emprego, desestimulando a migração. A permanência das famílias se torna importante para a produtividade local. A consolidação como segundo maior mercado consumidor acaba gerando o círculo social virtuoso. “O consumo gera renda e a renda gera consumo. O dinheiro a mais que veio para a mão das camadas populares a partir de 2004 gerou frutos no consumo, na economia e também no emprego”, complementa Marcos Pazini.

Assista à entrevista de Marcos Pazini do IPC Marketing, à TV Mundo do Marketing.

Leia também: Potencial de consumo dos brasileiros em 2014. Pesquisa do Mundo do Marketing Inteligência.

Comportamento do consumidor | Potencial de Mercado | Classe C


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