Não é hardware nem software, é mindware Bruno Mello 5 de maio de 2021

Não é hardware nem software, é mindware

         

Principal forma de aprender a lidar com o mundo atual é a forma como se olha o mundo e realiza escolhas. Mentalidade de crescimento será fundamental.

Não é hardware nem software, é mindware
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Por que achávamos normal alguém ficar algumas horas por dia se deslocando de casa até o trabalho? De onde veio o costume ou a crença de que todos os colaboradores de uma empresa deveriam morar em uma mesma cidade?

Bastava um pouco de abstração para entender que, estatisticamente falando, é muito improvável que os profissionais mais adequados, apaixonados e disponíveis para qualquer trabalho tenham de compartilhar o mesmo DDD. A tecnologia existente já permitia a mudança na forma de pensar e viver o trabalho. O que o momento atual trouxe foi a vitória do óbvio.

Não podemos nem dizer que não estávamos nos preparando para uma transformação, só falávamos disso no mundo corporativo. A questão é que esperávamos que o digital fosse a grande alavanca para a mudança na forma como vivemos e trabalhamos. O surgimento de tecnologias exponenciais maravilhou e/ou aterrorizou muita gente; daí a busca por livros, métodos, cursos e cases para entender como se prevenir para a grande mudança.

Vivemos em um ambiente complexo – antes e depois da pandemia. Achar um conjunto de soluções pré-embaladas nos acalma. É bom saber que algumas pessoas e empresas tiveram sucessos com novas abordagens. Vamos todos atrás delas e cria-se então um efeito manada. Para não ficar vulnerável ao “futuro do trabalho” é obrigatório aprender os novos temas, habilidades e abordagens do momento.

Um primeiro passo, talvez seja entender que estamos todos juntos na incerteza e no desconhecimento. Olhe artigos escritos há seis meses e veja como é difícil imaginar o que está por vir. Por isso, tenho percebido que a principal forma de aprendermos a lidar com o mundo atual é a forma como olhamos o mundo e fazemos nossas escolhas, que alguns chamam também de mindware.

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Tenho certeza de que não existe um comportamento que seja aplicável para todo mundo. Cada um se relaciona com o momento atual de maneira própria, no seu contexto e com suas necessidades. Proponho, contudo, algumas mudanças de perspectiva que ajudem a navegar o ambiente atual sem tentar buscar respostas prontas e instantâneas.

O meu primeiro convite é para termos um olhar de antropólogos curiosos. Isso significa olhar o mundo que surge sem julgamento e com interesse legítimo. A procura passa a ser por aprendizado. Sua opinião ou ponto de vista são menos importantes nesse momento. Absorva o novo de peito e cabeça aberta.

Além disso, vale identificar quais crenças antigas não param mais de pé no ambiente atual. Algumas pessoas chamam isso de desaprender. Não gosto muito do conceito, para mim parece que precisamos apagar um aprendizado antigo. Prefiro uma abordagem mais ativa: é indispensável compreender que o modo como fazíamos algumas coisas não funciona mais e, a partir daí, desativar comportamentos e práticas que muitas vezes já estão integrados no nosso modus operandi.

Finalmente, a velha e boa mentalidade de crescimento será fundamental. Essa buzzword é muitas vezes mal compreendida. Não se trata de um pensamento com o objetivo de escalar o negócio. A psicóloga Carol Dweck identificou, inicialmente em suas pesquisas com crianças, que indivíduos com mentalidade de crescimento acreditam que possuem capacidade de aprender qualquer coisa, desde que se esforcem e se dediquem. A inteligência e o talento são só pontos de partida. Em resumo, seus questionamentos sobre sua competência de mudar e se adaptar ao novo ambiente podem virar uma profecia autorealizável.

Para não me contradizer, não quero ser prescritivo e oferecer life hacks para o momento atual. Esse artigo é uma maneira de compartilhar um pouco do que tenho visto funcionar comigo e com outros lifelong learners.

Minha área de atuação e minha vida estão no aprendizado. Eu realmente acredito que aprender sempre tem a ver com uma segunda chance. Esse pode ser o momento de fazermos novas escolhas e recriar nosso modo de nos relacionarmos com o trabalho e com outras áreas da vida.

O presente (e não o futuro) é menos cheio de jargão, mais simples e verdadeiro.

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