Montadoras precisam se adequar diante da nova realidade do setor 2 de abril de 2014

Montadoras precisam se adequar diante da nova realidade do setor

         

Amos Lee Harris Júnior, Diretor da Universidade Automotiva, analisa o mercado automobilístico e comenta os desafios oriundos do desaquecimento da venda de carros no país

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Mercado,automóvel, carro,montadoraApós um longo período de crescimento, as montadoras se deparam hoje com uma nova realidade, marcada por muitos desafios e pela redução do ritmo de produção. Depois de uma queda de 0,91% na venda de carros em 2013, a primeira retratação do setor na última década, a expectativa do setor é de que as aquisições permaneçam estáveis nos próximos anos. As fábricas passam por um processo de ajustes, que inclui férias coletivas aos funcionários, redução de horas extras e afastamentos de operários.

Ao mesmo tempo em que marcas vêm apertando o freio nas linhas de montagem, a BMW abrirá a sua da primeira fábrica no Brasil em Santa Catarina em outubro deste ano. A vinda para o país é resultado do incentivo do governo para promover a competitividade da indústria automotiva nacional. O programa concede benefícios em relação ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as empresas que estimularem e investirem na inovação e em pesquisa e desenvolvimento dentro do Brasil.

O momento não é dos melhores e as montadoras iniciam o quarto mês de 2014 com veículos armazenados nos pátios. “Quem vier com produto de qualidade e a proposta de carro econômico, alinhado a preço de custo reduzido com certeza vai sair na frente. A diferença é esta: as marcas precisam se adequar à realidade do setor automobilístico”, opina Amos Lee Harris Júnior, Diretor da Universidade Automotiva, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Mundo do Marketing: Quais são as expectativas para o setor automobilístico em 2014?

Amos Lee Harris Júnior: Não está fácil. A realidade do setor é uma desova de estoque de carros 2013/14, que continuam nos pátios das montadoras, até chegar à venda dos modelos 2014/14. Estes novos veículos estão vindo um pouco mais caros, em função de itens que passaram a ser obrigatórios, como o air bag e o freio ABS. Nos próximos meses, o Brasil sediará a Copa do Mundo, evento que movimento outro mercado, como o de aparelhos de TVs ultra modernos. Em seguida teremos as eleições. Este será um ano atípico. O esforço para se vender precisará ser muito maior, em função das pessoas terem outros focos. Outra questão que também atrapalha o setor automobilístico é a dificuldade de aprovação do crédito e a falta da isenção do IPI. O resultado não poderia ser diferente: o aumento das vendas de carros usados.

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Mundo do Marketing: A vinda de outras marcas ao Brasil aumenta a concorrência?

Amos Lee Harris Júnior: Sem dúvida, aumenta. Quem entende e gosta de carro sabe que os chineses não têm vez. Pelo menos neste primeiro momento, pois os asiáticos ainda estão engatinhando no segmento automobilístico. No entanto, as pessoas que andam de transporte público e outros meios alternativos não têm tanto interesse nos itens diferenciais e vão querer apenas um carro. Se é de uma marca tradicional ou não, pouco importa, o que vale é o preço.

Mundo do Marketing: Vale a pena as montadoras investirem em novas fábricas e ações?

Amos Lee Harris Júnior: O fato de novas montadoras estarem instalando suas fábricas no Brasil se deve ao compromisso que firmaram um tempo atrás, como o de inovar. O programa prevê um desconto de até 30 pontos percentuais no IPI para automóveis produzidos e vendidos no país. No entanto, os interessados devem cumprir uma série de contrapartidas. Se alguém bater em nossa porta hoje e quiser montar alguma coisa aqui, será burrice, a não ser aquelas que acertaram o compromisso.

Mundo do Marketing: A fábrica da BMW recém-instalada em Araquari (SC) é um exemplo?

Amos Lee Harris Júnior: A BMW montou a primeira fábrica no Brasil em função de inúmeros benefícios prometidos pelo governo. A montadora irá produzir um modelo de carro que é fora do comum alemão, com tração dianteira. Este será um veículo com um custo mais barato para atender à demanda do mercado brasileiro.

Mundo do Marketing: Com a queda do IPI as montadoras apostaram no baixo preço. E agora, como atrair o consumidor sem os benefícios do governo?

Amos Lee Harris Júnior: As montadoras estão encontrando uma saída. A Volkswagen não vinha fazendo muito esforço para lançar produtos ou desenvolver novas frentes, e de repente, apresentou o Up!, um carro com três cilindros, prometido como o mais econômico e barato do mercado. É a “bola da vez”. Portanto, quem vier com produto de qualidade e a proposta de carro econômico, aliado a preço de custo reduzido, com certeza vai sair na frente. A diferença é esta: as marcas precisam se adequar à realidade do setor automobilístico

Mundo do Marketing: Em relação ao histórico do setor, como você vê o mercado hoje?

Amos Lee Harris Júnior: Já foi pior. Não é a primeira vez que o mercado automobilístico está desta maneira. O segmento vive de alto e baixos. Não vou afirmar que este ano está sendo o pior da história, pois tenho certeza que o setor já viveu outros momentos de dificuldade.


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