Inteligentes, sustentáveis, felizes: as cidades estão com tudo 27 de janeiro de 2014

Inteligentes, sustentáveis, felizes: as cidades estão com tudo

         

Rio: sense of place poderoso. O ?sentido do lugar? confere a uma cidade características tão próprias que a identificam em relação às demais, tornando-a memorável em suas interações

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Em visita ao Rio de Janeiro, o crítico americano de arquitetura Paul Goldberger opinou que a cidade tem um sense of place poderoso. O que significa isso? O tal do “sentido do lugar” confere a uma cidade características tão próprias que a identificam em relação às demais, tornando-a memorável em suas interações. Segundo Goldberger, essa característica, no Rio, se dá mais pela natureza protagonista do que pela arquitetura. Há lugares, porém, em que a arquitetura é definitiva para perceber uma cidade e com ela estabelecer algum tipo de relação. Pensem em Barcelona e Dubai, por exemplo. Ou Florença e Marrakesh. Mas, que outros aspectos, além da natureza e da arquitetura, poderiam ser explorados na dissecação da identidade de uma cidade e do seu potencial de comunicação? Que experiências marcantes esse espaço poderia oferecer? E que percursos afetivos e cartografias únicas são possíveis na geografia urbana? 
 
O sense of place pode ser fortalecido pelo número de citações, poemas, histórias, músicas, representações artísticas ou designações internacionalmente reconhecidas de um lugar. Nisso, o Rio de Janeiro pontua bem. Sem contar o inédito título de patrimônio mundial como Paisagem Cultural Urbana concedido pela Unesco, fora outros que somam o potencial de atratividade da cidade e promovem a geração de mais políticas públicas de estímulo ao turismo. 
 
O sense of place pode, ainda, ser entendido como algo que parte do ponto de vista de moradores, visitantes, passantes ou migrantes. Algo que é por eles sentido ou percebido, como um vínculo particular ou uma noção de pertencimento. Nem sempre, porém, esse sentimento se revela saudável, como aponta o geógrafo Yi-Fu Tuan. Pode ser uma impressão negativa, um evento pontual ou uma fama duvidosa. A reputação de um lugar pode afetar diferentes tomadas de decisão. Quem já não desistiu de passear ou estudar em um destino por conta de notícias menos animadoras? Numa esfera maior, países inteiros podem deixar de receber investimentos se suas reputações não estiverem bem cuidadas. Já aconteceu com o Brasil, considerado, recentemente, menos competitivo para receber aportes internacionais do que Panamá, Chile, México e Costa Rica, de acordo com o ranking do Fórum Econômico Mundial. 
 
Inteligente, sustentável e feliz são somente alguns dos inúmeros adjetivos que as cidades vem recebendo nos últimos tempos. Impressiona o número de conferências, cursos, encontros e workshops nacionais e internacionais realizados entre pensadores e estudiosos com o objetivo de discutir o papel desses centros que receberão muito brevemente mais de 50% da população mundial. 
 
Quem imagina que apenas arquitetos e urbanistas lideram tais encontros se engana. Esse novo olhar sobre o protagonismo da cidade envolve e engaja gente de outras esferas, governo incluso. Estamos falando de planejadores, comunicólogos, antropólogos, pesquisadores, estudantes, sociedade civil, academia, enfim, de todos os “donos” da cidade. Em paralelo ao interesse renovado pelas variáveis que as cidades oferecem e pela necessidade de valorizar seu genius loci, ou talento local, acredito que seja irreversível o movimento que defende uma espécie de copropriedade responsável – não basta estar e desfrutar, é necessário cuidar, interagir, ressignificar traçados, repropor usos e compartilhar uma visão comum que prega exatamente um compartilhamento frutuoso do espaço urbano. Muitos são os desejos de que as cidades sejam bem mais do que uma simples configuração sócio-geográfica complexa e se tornem espaços de memória, de história, de autenticidade, de visão comum compartilhada, de expressões coerentes e alinhadas, de encantamento e de sedução. 
 
No ano que começa, veremos o Brasil repetidamente no foco. A Copa do Mundo é um dos principais gatilhos dessa vitrine, mas não o único. O desenvolvimento da economia criativa, das vocações culturais, do empreendedorismo, o resgate de tradições, cidades inteiras se reinventando, se repensando, comemorando conquistas; enfim, não faltarão temas para integrar a proposta de que os lugares podem e devem se posicionar de forma destacada e principalmente significativa para seus diferentes interlocutores. 
 
Difícil deixar de citar, já que estamos falando de datas, o vídeo do projeto de 450 anos do Rio, que traz um olhar de futuro para a cidade do ponto de vista das crianças. Que 2014 promova novas discussões instigantes sobre nossa capacidade de influenciar positivamente a cidade – nossa “casa coletiva” –, definindo o papel de cada um em relação a ela e dela em relação a nós. Buon anno! 
 

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