Inspiração para criar negócios e um mundo melhor 2 de dezembro de 2013

Inspiração para criar negócios e um mundo melhor

         

Série Impacto tem como objetivo democratizar conhecimento e entusiasmar pessoas, diz indiano Dhaval Chadha há seis anos no Brasil e um dos fundadores da Cria

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O futuro será menos hierárquico, de criação aberta e com empresas pequenas e ágeis. Estas serão características predominantes nas marcas que vão ganhar mais força nos próximos anos. Pensando em inspirar as pessoas a criarem negócios dentro de um novo modelo e contribuírem para um mundo melhor, o indiano Dhaval Chadha está há seis anos no Brasil e é um dos fundadores da Cria, empresa que tem como missão estimular a criação de organizações conectadas com o futuro, democratizando conhecimento e potencializando novos formatos.

Com 27 anos, Chadha é formado em Ciências Sociais pela Universidade de Harvard nos Estados Unidos e futurista pela Singularity University. Tendo como base estudos, pesquisas e experiências, ele ajudou a definir as tendências de negócios: tecnologia, criatividade, abertura e do bem. As quatro foram apresentadas na primeira conferência da série Impacto organizada pela Pipa e a Endeavor Brasil, no Rio de Janeiro, em evento que encerrou a Semana Global de Empreendedorismo.

As tendências definem como o mercado se comportará no futuro. “O Twitter, a Primavera Árabe, o Movimento Rede da Marina Silva são exemplos disso. Acreditamos que precisamos envolver muita gente e acelerar o movimento de criação de um mundo melhor. Quanto mais rápido isso acontecer, melhor para todo mundo”, diz Dhaval Chadha, em entrevista ao Mundo do Marketing. Veja a seguir.

Mundo do Marketing: As quatro tendências apresentadas no evento Impacto2013 são tecnologia, criatividade, abertura e do bem. Como vocês chegaram até elas?
Dhaval Chadha: Não foi algo específico. Estamos há alguns anos inseridos nesse tipo de pensamento sobre o que está acontecendo no mundo, nas mudanças que estão redefinindo o contexto dos negócios e como uma empresa inova e continua tendo relevância no futuro. Então, além da Pipa, que é a parte de investimentos, temos a Cria, que faz consultoria e ajuda os clientes a entenderem o que está acontecendo. Essas quatro tendências são uma junção de várias pesquisas, estudos, experiências e projetos que formatamos dessa maneira.

Mundo do Marketing: Você é indiano. O que o motivou a vir para o Brasil?
Dhaval Chadha:
Nasci e fui e criado na Índia. Fiz faculdade de Ciências Sociais em Harvard nos Estados Unidos. Quando estava estudando, visitei o Brasil pela primeira vez para fazer um intercâmbio. Passei cinco meses no Nordeste estudando economia solidária e essa pesquisa virou uma tese. Quando entreguei o trabalho, uma das pessoas que o avaliaram foi um professor brasileiro, que indicou para mim uma ONG no Rio de Janeiro, o Comitê para Democratização da Informática (CDI). Vim com a intenção de ficar um ano e ter uma experiência de trabalho social. E estou aqui há seis anos.

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Fiquei dois anos no CDI e quis fazer algo novo. Decidi me dar uma tempo para pensar e fiz duas coisas para isso. Fui curador do TEDxSudeste, o primeiro no Rio de Janeiro, e fui para a Singularity University, que é um projeto do Google e da Nasa sobre o futuro da tecnologia e como alavancá-la para resolver grandes problemas da humanidade. Esse foi umas das influências que tive, especialmente em relação à tendência hi-tech.

Mundo do Marketing: Você poderia explicar a tendência hi-tech?
Dhaval Chadha:
Ao longo dos últimos anos, Ray Kurzweil, que é um gênio, começou a perceber a real velocidade do avanço tecnológico no mundo. Ele e outras pessoas notaram que a tecnologia não avança de forma incremental, mas de maneira exponencial. Num tempo que você esperaria que ela crescesse 10% ou 15%, a tecnologia dobra de performance e o preço cai bastante também.

Talvez a primeira pessoa a perceber isso tenha sido Gordon Moore, que fundou a Lei de Moore. Depois outras pessoas perceberam que esse tipo de crescimento não era só de chip, mas acontecia com outros itens da memória à energia solar. E isso muda radicalmente a forma de pensar o futuro, porque rapidamente vamos ter computadores mais capazes. A inteligência biológica não evoluiu: temos o mesmo hardware que o primeiro ser humano, enquanto a inteligência tecnológica está avançando muito. E, obviamente, isso tem um impacto muito grande no mundo dos negócios. Na verdade, daqui a um tempo, nenhuma empresa será puramente analógica. Todo mundo usa tecnologia e cada vez usará mais. As empresas grandes e as startups têm que entender esse crescimento, caso contrário, não vão dar conta da concorrência. Já que a tecnologia está crescendo exponencialmente, tudo que conhecemos será reinventado e de maneira mais rápida do que achamos.

A web só tem 6.500 dias. Isso significa que 6.500 atrás quase não tinha programador, designer para web e especialista em Marketing digital. Nos próximos 6.500 dias, eles terão que se reinventar, porque não sabemos o que virá. Estima-se que o aluno do ensino médio que se forma nos Estados Unidos hoje mudará de carreira cinco vezes ao longo da vida e três delas ainda não existem. Essa mudança tecnológica impacta como a empresa aloca os seus recursos, como ela planeja seu futuro, como ela contrata seus funcionários, impacta tudo.

Mundo do Marketing: Nesse cenário, qual é a importância da criatividade?
Dhaval Chadha: Já que sabemos que tudo que fazemos terá que ser reinventado. A forma como pensamos também terá que ser diferente. Vamos ter que, constantemente, reinventar as coisas. Então, a criatividade passa a ser uma capacidade muito importante. Durante muitos anos, fizemos as coisas da mesma forma, porque o contexto era muito mais previsível. Por exemplo, não tem muito mistério criar uma empresa de aço quando já existem 10 empresas de aço. Mas o Google criou uma empresa que não existia antes. Em algum momento, nasceu o primeiro buscador. Nós nunca tivemos um contexto em que um buscador faria sentido. Para fazer negócios que terão relevância ao longo do tempo, precisamos nos reinventar constantemente.

Mundo do Marketing: Até mesmo o Google?
Dhaval Chadha: Sim, claro. Por isso é que o Google está sempre inventando coisas novas, do Google Glass, que é super polêmico, até carros autônomos. Por que uma empresa de buscador está fazendo um carro autônomo? Porque o contexto está sempre se redefinindo e você tem que estar preparado para isso. A grande empresa como conhecemos hoje tende a desaparecer, porque são as companhias com possibilidade de se reinventar que permanecerão. Temos o exemplo da Sony que em 2005 dominava a indústria da música. Veio o iPod e derrubou tudo. A Sony pensava em núcleos verticais e a Apple pensou nas pessoas: em como elas querem interagir com as músicas. A criatividade tem a ver com empatia, emoção, humor e o lado esquerdo do cérebro. Agora, temos que usar os dois lados. O profissional do futuro será assim, mas não estamos preparando as pessoas para essa realidade.

Mundo do Marketing: Como a tendência de abertura aparece?
Dhaval Chadha:
Um dado muito curioso diz que existem hoje 70 pessoas para cada empresa e, daqui a 10 anos, a proporção será de 10 para cada uma, ou seja, sete vezes a mais. Esse modelo hierárquico e centralizado de gestão está sendo radicalmente desafiado, porque é pouco sustentável e não está alinhado aos valores das novas gerações. Na era da informação, cria-se muito mais valor com a descentralização. O peer to peer (P2P) está definindo muitos novos negócios.

A maior rede de hotéis no mundo é a Airbnb, que nada mais é do que qualquer pessoa podendo alugar quarto. Tem também o Getaround. O dono de um carro utiliza uma média de 7% do tempo de vida do seu veículo. Em 93% do tempo o seu carro não está sendo usado e você começa a alugá-lo. Em 10 anos, você consegue pagá-lo. A outra pessoa que não precisa de veículo o tempo todo consegue alugar um quando precisar. É um modelo totalmente novo, porque todo automóvel fabricado passa a ser usado 100% do tempo. Isso é criação aberta e uso compartilhado, com empresas pequenas e ágeis e não grandes e hierárquicas. O Twitter, a Primavera Árabe, o Movimento Rede da Marina Silva são exemplos disso.

Mundo do Marketing: O que quer dizer a tendência “Do bem”?
Dhaval Chadha: Imagina um sistema muito simples em que só existam A e B e eles são interdependentes. A só existe se B existe e vice-versa. A só tem sucesso se B tem sucesso e vice-versa. Se eu mato um, o outro morre. O fato é que estamos vivendo num sistema semelhante, mas de complexidade muito maior. Não tem empresa bem-sucedida no futuro se não houver recursos naturais suficientes e se não tiver pessoas saudáveis. As empresas dependem de gente e de um ambiente sustentável. Então, pelo próprio instinto de sobrevivência, as companhias terão que contribuir para a construção de um futuro melhor. As que não estiverem contribuindo para isso vão deixar de existir, porque as pessoas vão perceber.

Também acredito que a consciência do ser humano tende a evoluir ao longo do tempo. Não é por acaso que estão surgindo tantas novidades e negócios do bem. As novas gerações estão buscando propósito no trabalho: é um movimento de evolução que vem acontecendo. O futuro dos negócios será do bem e será mais lucrativo para as empresas. Hoje elas são muito egoístas.

Mundo do Marketing: A conferência Impacto2013 encerrou a Semana Global de Empreendedorismo. Qual a intenção de vocês?
Dhaval Chadha:
O nosso objetivo é estimular mais pessoas a pensarem na criação de negócios conectados com o futuro através da democratização do conhecimento e da inspiração. Queremos inspirar um grupo cada vez maior de pessoas e envolvê-las no movimento. Enxergamos que a Endeavour era um bom parceiro para levar essa mensagem para um público maior e a Semana Global de Empreendedorismo era um bom momento para essa exposição.

Mundo do Marketing: Vocês planejam mais eventos do tipo?
Dhaval Chadha: Sim, daqui para frente faremos mais ações. Queremos fazer eventos maiores e para mais pessoas. Temos grandes ambições, porque acreditamos que temos que envolver muita gente nessa área e acelerar esse movimento. Apesar de estarmos indo numa direção positiva, a questão é timing. O quanto mais rápido isso acontecer, melhor para todo mundo.

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