Insights sobre o Singularity Summit 4 de maio de 2018

Insights sobre o Singularity Summit

         

Comunidade de aprendizagem global usa tecnologias exponenciais para resolver os desafios do mundo e trouxe reflexões de como o Brasil pode aproveitar melhor sua força inovadora

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O SingularityU Brasil Summit foi realizado pela HSM em parceria com a Mirach, apesar de ser um evento estreante no Brasil, já é o maior do mundo fora dos EUA já realizado. O evento de dois dias aconteceu em São Paulo nos dias 23 e 24 de abril e reuniu mais de 1.800 convidados entre líderes locais e internacionais para debater de maneira revolucionária, é claro, como as novas tecnologias podem transformar o mundo e trazer impactos positivos de forma ecossistêmica, ou seja: para todos.

O tema do primeiro bloco de palestra foi o pensamento "moonshot". Na tradução, é uma forma de atirar à lua, pensar grande e ter ideias inovadoras e o ciclo foi aberto por Peter Diamandis, que é empresário e co-fundador da Singularity University, além de engenheiro e médico. Segundo ele, o Brasil está em um momento perfeito para usar sua potência geográfica para transformar o mundo através do alcance exponencial da tecnologia.

Yvonne Cagle – a primeira mulher a pisar na Lua – emocionou na segunda sessão do primeiro dia ao falar que a motivação de todas as suas conquistas sempre foi "seguir os sonhos". Médica e astronauta, ela relembrou a todos sobre possibilidades infinitas, contou como se encantou pela Lua quando criança e falou um pouco sobre o seu projeto atual com nanotecnologia e medicina. O projeto é para melhorar as condições do corpo humano no espaço e tem como objetivo desenvolver biocápsulas para detecção de doenças como câncer.

Na rota dos artistas, o artista “multimídia” Jarbas Agnelli na conversa “Visualização e música, Robótica para a saúde e cenários futurísticos” fala sobre o casamento entre música e imagem. Autor de "The City of Samba", seu trabalho utiliza sincronias e sensações, criando encantamento hipnótico em quem ouve. Junto de sua orquestra, ele disse que "as imagens fornecem um corpo a música que, em troca, entregam uma alma”.

Ainda sobre o primeiro dia, Thomas Kriese, também da Singularity University, tomou a palavra para falar que "todos os dias quando acordamos, tempos a oportunidade de mudar o mundo”. O empreendedor ainda discorreu sobre a teoria dos 6 D´s: digitalização, decepção, disrupção, desmaterialização, desmonetização e democratização. Segundo ele, o ego é o maior inimigo dos empreendedores e é preciso não ter medo de falhar.

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Divya Chander falou sobre neurociência e robótica. Ela lembra o quanto precisamos entender como funciona o cérebro, a consciência, o código neurológico e como conectar cérebro às máquinas de forma a trazer um impacto positivo. Ao ampliar o potencial humano, lembra ela, devemos estar aberto às mudanças necessárias para construir máquinas complexas que, além de expressar nossa consciência, nos ajude a ampliá-la.

O futuro da educação e do trabalho devido às transformações digitais foi discutido por Tiago Mattos. Ele falou sobre a quebra de paradigmas e os novos modelos de trabalho devido à capacidade exponencial da tecnologia, e sobre a diferença das estruturas tradicionais e hierárquicas.

A última sessão do primeiro dia foi denominada "Pragmatismo", na qual Viviane Ming falou sobre seu projeto de desenvolvimento de criança através do uso de máquinas sofisticadas. Segundo ela, inteligências artificiais cada vez mais presentes precisam ser usadas de forma a estarmos melhores do que antes de começar a utilizá-las.

Segundo dia
Larry Keeley abriu o segundo dia com uma fala sobre Organização de Inovação no ambiente corporativo. Não é verdade, segundo ele, que a inovação venha de gênios ou de malucos, e essa mentalidade impede muitas empresas de adotar estratégias de inovação com medo de sua reputação no mercado. Por causa disso, 95% das equipes dedicadas à inovação ou trabalham no problema errado ou utilizam procedimentos fracos para atingir seus objetivos.

Para resolver esses dois problemas-base, Larry apresentou o framework "Dez Tipos de Inovação", que também é nome de seu livro que explica como usar esse modelo de gestão. Segundo ele, as firmas de sucesso seriam as que conseguem resolver os dois problemas de forma consciente e sistemática baseada em 4 pilares: tecnologia, experiência fantástica e sustentável, modelo de negócios justo e 5 ou mais dos dez tipos de inovação. Substituir mitos por métodos e fazer uma integração elegante de tudo o que é funcional para a empresa são os segredos para inovar com mais facilidade.

Larry trouxe algumas verdades difíceis de digerir sobre a realidade corporativa brasileira. A primeira e mais dolorosa é que todos nós sabemos que precisamos inovar melhor e que já existem ferramentas, métodos e processos que podem aumentar nossa taxa de sucesso ao empreender esse desafio. Além disso, um pequeno esforço na direção de aprender uma nova ferramenta pode salvar milhões gastos com operações ineficientes. O palestrante ainda lembrou que grande parte do mundo utiliza a América Latina como laboratório de inovação e chegou o momento de fazermos isso por nós mesmos, visto o potencial climático, cultural e econômico que possuímos. Portanto, é essencial que inovadores brasileiros construam uma agenda sistemática e profunda para inovar no Brasil, que pode ser o berço das melhores formas de inovação no mundo.

O produto disruptivo da Health IoT foi o tema da palestra do Plínio Targa. Essa startup desenvolveu um método não invasivo de medição da pressão intracraniana através da leitura das curvas de pressão que pode prevenir e diagnosticar patologias diversas relacionadas ao crânio. Um dos lemas provocadores da empresa é que um cientista de 80 anos utiliza uma tecnologia de 50 anos para quebrar a teoria de que o crânio não era expansível, que tem 200 anos. Ou seja, inovar não é coisa só de jovens, e nem precisa estar baseado no que há de mais novo tecnologicamente falando. 

Na sequência, Tônia Cassarin falou sobre a incapacidade atual dos professores e adultos em ensinar educação emocional infantil. Sua palestra impacta ao nos lembrar sobre o analfabetismo emocional de grande parte das pessoas que atuam profissionalmente, até mesmo dos professores, devido a uma educação conteudística baseada somente na lógica. O trabalho de Tânia, autora de "Tenho Monstros na Barriga" é qualificar professores e pais para ajudar na educação emocional das futuras gerações, garantindo que estarão mais aptos que nós a lidar com suas próprias emoções.

Tônia Cassarin

Sem dúvidas, um dos destaques do evento foi Raymond McCauley. Ele trabalha com leitura e hackeamento de DNA e falou sobre os avanços da biotecnologia, mostrando que os avanços da biologia digital exterminaram a Lei de Moore ao atingir 5X em apenas dois anos. Talvez a notícia ainda mais animadora é de que em 2022 o mapeamento de genoma será o mesmo custo da água usada para dar uma descarga hoje. E quais seriam as consequências desse baixíssimo custo? Segundo ele, o desenvolvimento de um exame de sangue simples para diagnóstico de câncer, o possível fim das mamografias e colonoscopias e até mesmo o detalhamento da composição alimentar na área da indústria dos alimentos. Ou seja, adoecer fica cada vez mais difícil e mais rápido de ser diagnosticado.

Raymond falou sobre o movimento de ascensão da genômica do consumidor e sobre o fato do maior database de DNA do mundo ser do Ministério de Segurança Pública da China. Ele apresentou o MinION, um dispositivo de 200 dólares que é um sequenciador de DNA conectável ao computador. O pesquisador explica que no futuro só será necessário apontar para aquilo que se deseja descobrir os ingredientes, impedindo inclusive o terrorismo biológico.  Ele citou 4 siglas revolucionárias em termo de engenharia genética: CRISPR (tesouras programáveis para DNA), CAR-T (reprogramação da imunidade), SCNT (reprogramação de células) e RNAI botão mudo para o DNA). São apenas siglas, mas vão mudar o mundo e as indústrias – consequentemente, as nossas vidas, desde criação de animais em laboratório, retirar e recolocar células para curar doenças, a cura da leucemia, criação de humanos usando embriões de 3 dias de concepção para modificar características do feto.

Sobre os limites éticos desses estudos e de suas consequentes aplicações, Raymond disse que a única forma de que essas tecnologias, que são inevitáveis, acontecem de uma forma democrática e para o bem é ensinando a todos a hackear o DNA. Essa é uma maneira de permitir que várias pessoas possam corrigir possíveis erros e que o ambiente seja autorregulado, evitando que as tecnologias sejam privilégio de poucos. Uma das medidas é o Biocurious, um Hackspace com função educativa e o Amino Lab, um kit infantil que ensina exploração biológica para os pequenos.

Um outro tipo de evolução relacionada a monetização foi levantada por Fernando Ulrich em relação a Criptomoedas e Blockchain para explicar como funciona, qual a segurança e como são tecnologias descentralizadoras para uma rede global sem fronteiras e anarquista, sem intermediários. Ele encerrou a palestra dizendo que a era da abundância real será através da tecnologia do blockchain.

Ramez Naam falou energia solar e sobre a performance das baterias que aumentam a capacidade e reduzem os custos de produção. Falou ainda carros elétricos que hoje acontece no melhor dos cenários. Uma de suas frases marcantes foi de que ¨a idade da pedra não acabou por falta de pedra, e sim por encontrarem algo melhor que a pedra¨.

Mariana Vasconcelos também falou sobre agronomia digital, demonstrando o aumento da demanda de alimentos, a diminuição de áreas de plantio dentre outras questões já pontuadas pelos teóricos. Porém, ela relembra que já existem tecnologias para digitalização da agronomia e isso deve ser integrado a uma educação digital para os times de campo nas lavouras. Essa tecnologia para maximizar a produção de alimentos e reduzir drasticamente os desperdícios é capaz de prever pragas, doenças, demandas de irrigação, clima, aperfeiçoamento genético, fertilidade, gestão das fazendas e muito mais. Mariana lançou AgroSmart para integrar todos estes sistemas e trazer à tona uma plataforma de gestão de dados para otimizar a performance da agronomia. 

O Fabio Teixeira, brasileiro, fundou a Hypercubes, desenvolveu uma maneira de definir a composição química dos objetos observados por meio de estudos da luz solar e de assinatura espectral ótica. Ele criou um satélite de 10 Kg, muito mais barato que os satélites tradicionais, com melhor qualidade de imagem e com potencial de escanear a terra toda diariamente sem parar. Assim, torna-se possível escanear o solo para identificar minerais, doenças, nutrientes do solo, buscar meteoritos, detectar vazamentos em linhas de transmissão de óleo e gás e outras coisas. Fábio trabalha para NASA e o grande desafio agora é o fato de que no espaço não há velocidade de conexão para o volume de dados que a tecnologia necessita, que seria de 100 TB por órbita e/ou de 1 órbita a cada 90 minutos.

O melhor "speaker" do evento foi sem dúvida o David Roberts que utiliza indicadores de felicidade dos brasileiros para discutir potenciais de inovação no Brasil. Roberts falou sobre a necessidade de construir estradas, carros autônomos, voadores, avatares para não precisamos sair de casa para trabalhar, empregabilidade com tecnologia. A sensação após sua palestra, de fato, precisamos de um pensamento que pule e antecipe as tecnologias, tendo como base indicadores de felicidade e sustentabilidade, e não apenas de crescimento.

SingularityU Brasil Summit

Crédito: Openspace


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