<p><strong>Varejo: Negociando no Balc&atilde;o</strong></p><p>Por Cl&aacute;udio Goldberg*</p><p>Prezado leitor, nos dias de hoje uma das coisas not&aacute;veis a respeito da negocia&ccedil;&atilde;o &eacute; que ela ocorre o tempo todo, todo o tempo e nem por isso se manifesta com clareza, nem sempre temos consci&ecirc;ncia de que ela &eacute; uma ferramenta para obtermos nosso sucesso profissional e pessoal, alcan&ccedil;armos nossos objetivos.</p><p>O Varejo &eacute; um grande balc&atilde;o de negocia&ccedil;&atilde;o e, queiramos ou n&atilde;o, dele somos participantes. Por isso mesmo, vamos neste artigo, contextualizar os princ&iacute;pios que regem a negocia&ccedil;&atilde;o no varejo, um campo onde as vendas ocorrem de forma peculiar. Como primeira abordagem conceitual, devemos questionar se toda compra e venda &eacute; uma negocia&ccedil;&atilde;o. Bom, quem respondeu sim, n&atilde;o acertou. Toda compra e venda &eacute; um neg&oacute;cio, mas n&atilde;o necessariamente uma negocia&ccedil;&atilde;o. Imagine entrar em uma loja, pegar o primeiro viol&atilde;o que encontrar ir ao caixa pagar o pre&ccedil;o estipulado e sair da loja. Agora reflita, houve negocia&ccedil;&atilde;o? </p><p>N&atilde;o, pois a mesma somente cabe quando h&aacute; um conflito de interesses e todo conflito nasce da escassez, reza a teoria da negocia&ccedil;&atilde;o. Esta pode ser material &ndash; n&atilde;o temos o dinheiro suficiente, o prazo de pagamento n&atilde;o atende a necessidade, o fornecedor pode n&atilde;o ter o modelo ou cor do produto, – ou n&atilde;o material &ndash; a figura do vendedor n&atilde;o inspira confian&ccedil;a, sua comunica&ccedil;&atilde;o n&atilde;o est&aacute; apropriada ao perfil do comprador, n&atilde;o h&aacute; empatia e canal de relacionamento. </p><p>&Eacute; esta l&oacute;gica que sugere a engrenagem da metodologia de negocia&ccedil;&atilde;o integrada (MIN) que o Instituto MVC aplica para o segmento de Varejo. A metodologia consiste em trabalhar 4 premissas de sucesso, sendo elas: </p><p>1. A realidade pessoal do vendedor e do comprador &ndash; Chamamos de 1&ordf; posi&ccedil;&atilde;o perceptiva que significa olhar a negocia&ccedil;&atilde;o focando, o que o vendedor de um lado e o comprador do outro acreditam, suas diversas necessidades, culturas, perfil e caracter&iacute;sticas. </p><p>2. Relacionamento pessoal do Vendedor e do comprador &ndash; Chamamos de 2&ordf; posi&ccedil;&atilde;o perceptiva que d&aacute; &ecirc;nfase ao canal de comunica&ccedil;&atilde;o, tanto para o comprador quanto para o Vendedor e faz refer&ecirc;ncia ao estilo de falar, a flexibilidade, a capacidade de ouvir.</p><p>3. O conhecimento do seu neg&oacute;cio &ndash; Chamamos de 3&ordf; posi&ccedil;&atilde;o perceptiva, cuja ess&ecirc;ncia &eacute; olhar o m&eacute;rito do que se est&aacute; negociando, quais s&atilde;o os objetivos do vendedor (p.e. bater a cota do dia, do m&ecirc;s, atender e conquistar o cliente, etc.) e do comprador (p.e. um investimento, uso pr&oacute;prio, dar de presente, etc.); quais as alternativas (p.e. tem outra loja; tem estoque, pode-se financiar etc.) e crit&eacute;rios. (Valor de Mercado; Custos; Precedentes; Reciprocidade; efici&ecirc;ncia, etc&hellip;).</p><p>4. O processo de negocia&ccedil;&atilde;o &ndash; Chamamos de 4&ordf; posi&ccedil;&atilde;o perceptiva que &eacute; a condu&ccedil;&atilde;o do acordo, as etapas, estrat&eacute;gias, t&aacute;ticas e concess&otilde;es. </p><p>A negocia&ccedil;&atilde;o, assim como a venda, &eacute; um processo com etapas que ocorrem antes (Pr&eacute;-Venda), durante (Venda) e depois (P&oacute;s-Venda). No cen&aacute;rio do Varejo, onde a venda &eacute; notadamente de impacto, ou de curto prazo em raz&atilde;o do pouco tempo dispon&iacute;vel das partes, a fase de prepara&ccedil;&atilde;o fica muito limitada.</p><p>O fator tempo sempre &eacute; um recurso escasso para o Vendedor do varejo e por isso, vale lembrar Goethe: &ldquo;As coisas mais importantes nunca devem ficar &agrave; merc&ecirc; das menos importantes&rdquo;. Assim sendo, devemos preparar e planejar nossa negocia&ccedil;&atilde;o elaborando um &ldquo;mapa de negocia&ccedil;&atilde;o&rdquo; considerando os 3 elementos b&aacute;sicos a serem planejados:<br /><strong>Comunica&ccedil;&atilde;o e Relacionamento; Interesses e Op&ccedil;&otilde;es, legitimidade e Compromissos.</strong></p><p>Assim sendo, vamos correlacionar a interface das etapas do processo de venda no varejo com o processo de negocia&ccedil;&atilde;o entendendo como deveria um profissional de vendas no varejo comportar-se de forma eficaz para obter sucesso na venda.</p><p>1&ordm; Passo &ndash; Abordagem &ndash; O cliente est&aacute; na vitrine e o vendedor n&atilde;o sabe se fica ou se vai falar com o mesmo. &Eacute; preciso estabelecer uma comunica&ccedil;&atilde;o adequada a cada cliente e isto implica em observar a linguagem corporal (visual) e verbal do potencial cliente. Para tanto &eacute; fortemente recomend&aacute;vel que se fa&ccedil;a uma abertura casual e descontra&iacute;da, para criar um clima positivo no relacionamento e se utilize o Rapport para seduzi-lo. Por isso mesmo, inicie sua intera&ccedil;&atilde;o social falando sobre o mundo musical ou mesmo sobre a hist&oacute;ria dos instrumentos (se voc&ecirc; n&atilde;o tiver este conhecimento, procure inteirar-se o mais rapidamente poss&iacute;vel).</p><p>2&ordm; Passo &ndash; Explora&ccedil;&atilde;o – Parab&eacute;ns para voc&ecirc;!!! Agora que o potencial cliente entrou na loja, &eacute; hora de investigar suas reais necessidades, para que voc&ecirc; possa formular uma estrat&eacute;gia. N&atilde;o saia oferecendo instrumentos musicais das mais variadas faixas de pre&ccedil;os, mostrando todo o estoque que existe na loja ou que est&aacute; em falta. Seja pr&oacute;-ativo e fa&ccedil;a perguntas abertas e fechadas, focando os interesses importantes do pontecial comprador para saber se as op&ccedil;&otilde;es como p.e : E se&hellip;&hellip;? Sob quais circunst&acirc;ncias voc&ecirc; concordaria? Como voc&ecirc; utilizaria? </p><p>Assim, se o comprador estivesse procurando uma guitarra, dever&iacute;amos tentar investigar se &eacute; para uso pr&oacute;prio ou para dar ao filho; se ele tem banda profissional ou &eacute; amador; se a condi&ccedil;&atilde;o financeira est&aacute; mais para parcelamento, financiamento ou pagamento &agrave; vista; se ele tem autoridade para decidir aquela compra; se mora ou trabalha perto da sua loja ou estava apenas passando e seu retorno por certo &eacute; incerto.</p><p>3&ordm; Passo &ndash; Apresenta&ccedil;&atilde;o &ndash; Chegamos no ponto onde o vendedor do balc&atilde;o tem de usar suas habilidades de argumenta&ccedil;&atilde;o para perssuadir o comprador a decidir-se pela compra. Nesta hora, o vendedor deve procurar demonstrar ao cliente o benef&iacute;cio que ser&aacute; alcan&ccedil;ado atr&aacute;ves daquela compra e para isso deve utilizar a t&eacute;cnica MEDT &ndash; Mostra a caracter&iacute;stica do produto, explica a vantagem que representa, relaciona ou direciona a mesma ao benef&iacute;cio e faz um tentativa de fechamento. Vale notar que benef&iacute;cio &eacute; a resposta a pergunta que todo cliente se faz : O que eu ganho com isso? </p><p>Portanto, procure explorar as informa&ccedil;&otilde;es levantadas no passo da explora&ccedil;&atilde;o acima para conferir peso aos seus argumentos. Assim sendo, diga ao pai daquele filho que est&aacute; iniciando o apreendizado de piano que aquele instrumento da marca tal &eacute; o mais apropriado por ter um teclado diferente com interface mais amig&aacute;vel, que por consequ&ecirc;ncia isto estimula e motiva o usu&aacute;rio a gostar e ficar treinando por mais tempo, o que o leva a aprender em menos tempo e assim, reduz o valor do investimento e etc.</p><p>&Eacute; importante acrescentar a necessidade de legitimar sua proposta, posicionando ao comprador sua transpar&ecirc;ncia e &eacute;tica. Mas como faz&ecirc;-lo? Eu digo, legitimando sua proposta. E a forma de se fazer isto &eacute; fazendo refer&ecirc;ncia ao Valor de Mercado, Custos, Precedentes, Reciprocidade, Efici&ecirc;ncia e outros argumentos. </p><p>Cumpre notar que em toda venda/ negocia&ccedil;&atilde;o sempre h&aacute; a obje&ccedil;&atilde;o ou o impasse e nesta hora precisamos fazer concess&otilde;es. Entenda, pois, o que &eacute; importante para o comprador e aquilo que voc&ecirc; como vendedor pode conceder, mas lembre-se: Nunca d&ecirc; nada sem pedir algo em troca, como por exemplo, a compra de um acess&oacute;rio para a possibilidade de um desconto ou parcelamento. </p><p>4o Passo &ndash; &Eacute; tudo uma quest&atilde;o de comprometimento. Todo o fim &eacute; sempre o recome&ccedil;o e a possibilidade de uma nova transa&ccedil;&atilde;o. Por isso se recomenda tanta aten&ccedil;&atilde;o ao P&oacute;s Venda. Empenhe-se para que todas as promessas feitas sejam cumpridas, cumprimente o cliente pela boa escolha e compra que fez, garanta a ele a continuidade do relacionamento mostrando respeito por ele, seu cliente. Por fim, minha &uacute;ltima dica: Desenvolva sua reputa&ccedil;&atilde;o positivamente, como algu&eacute;m preocupado com a satisfa&ccedil;&atilde;o das necessidades e desejos do seu cliente. </p><p>* Claudio Goldberg &eacute; consultor, especialista em varejo, gest&atilde;o de CRM, coordenador do MBA de Varejo da Funda&ccedil;&atilde;o Get&uacute;lio Vargas (FGV) e professor em Marketing e Vendas da FGV, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Est&aacute;cio de S&aacute;.</p>
Varejo: Negociando no Balcão
3 de julho de 2007