Toc, Toc, Toc – Comércio porta a porta
Toc, toc, toc - Comércio porta a porta
Por Redação - 03/08/2006 Artigos
<p><strong>Toc toc toc – Com&eacute;rcio porta a porta</strong></p><p>*Luciana Aguiar e Renato Meirelles</p><p>Que empresa n&atilde;o gostaria de ter uma rela&ccedil;&atilde;o direta com seus consumidores? Ter uma marca de confian&ccedil;a, independente dos investimentos em comunica&ccedil;&atilde;o? Ou ainda, possuir uma equipe de vendedores que al&eacute;m de ser capaz de chamar cada cliente pelo nome ainda gaste parte dos seus rendimentos com produtos da pr&oacute;pria empresa?<br /><br />Estes itens fazem parte do sonho de empresas de todo o mundo. Junte isso com uma necessidade cada vez maior de n&atilde;o depender do varejo tradicional e pronto, temos alguns ingredientes que fazem com que a op&ccedil;&atilde;o pela venda porta a porta n&atilde;o pare de crescer no Brasil. Isso acontece com empresas como Yakult, uma das pioneiras, Amway, Avon, Natura e outras que est&atilde;o come&ccedil;ando a seguir o mesmo caminho, como a Danone e Sara Lee.<br /><br />Ao contr&aacute;rio dos outros canais de varejo, o crescimento do com&eacute;rcio porta a porta acontece em per&iacute;odos de crise econ&ocirc;mica. Um bom exemplo &eacute; o caso da Avon que, em 1999, com a desvaloriza&ccedil;&atilde;o do real, teve um aumento nas vendas em 26%. Nesses momentos, a venda direta se torna uma possibilidade de trabalho importante e, com sua capilaridade, consegue trazer o consumidor das classes C e D para esse mercado.<br /><br />Mas o que leva o consumidor popular a responder t&atilde;o bem a esse canal? A venda direta se aproveita da propaganda boca-a-boca, com base numa rela&ccedil;&atilde;o de confian&ccedil;a e reciprocidade, muito presente na base da pir&acirc;mide. O segmento de baixa renda tem uma postura mais desconfiada diante das lojas de varejo, preferindo comprar de conhecidos ou pessoas que s&atilde;o do &ldquo;peda&ccedil;o&rdquo;.<br /><br />A for&ccedil;a da venda direta vem dessa capacidade da empresa em estabelecer uma rela&ccedil;&atilde;o direta com a rede de sociabilidade de suas vendedoras, consultoras, associadas etc. As vendas diretas tamb&eacute;m se beneficiam do h&aacute;bito brasileiro de misturar neg&oacute;cios com rela&ccedil;&otilde;es pessoais.<br /><br />Este modelo de venda est&aacute; baseado em la&ccedil;os mais fortes que os existentes entre a vendedora e a compradora tradicionais. Muitas das clientes preferem gastar um pouco mais com algu&eacute;m que conhecem a economizar comprando numa loja. Neste caso, prevalece a m&aacute;xima nacional em que &ldquo;as rela&ccedil;&otilde;es pessoais contam mais do que a l&oacute;gica econ&ocirc;mica&rdquo;, como diz o antrop&oacute;logo Roberto da Matta, professor da Universidade de Notre Dame. A vendedora &eacute; geralmente uma pessoa pr&oacute;xima, que conhece o gosto da cliente, podendo vender produtos espec&iacute;ficos. Al&eacute;m disso, responde &agrave;s suas necessidades e zela por isso no processo de venda, adaptando-se melhor ao universo onde atua. A forma&ccedil;&atilde;o dos cons&oacute;rcios de beleza &eacute; uma estrat&eacute;gia de quem entende muito bem a rela&ccedil;&atilde;o entre o desejo e o tamanho do bolso da cliente.</p><p>Peculiaridades culturais &agrave; parte, a venda porta a porta tem como principal vantagem a capacidade de &ldquo;agir localmente&rdquo; em um mundo cada vez mais globalizado. E pode ser encarada de v&aacute;rias formas, de acordo com o ponto de vista de cada um. &ldquo;&Eacute; a privatiza&ccedil;&atilde;o das rela&ccedil;&otilde;es pessoais&rdquo;, diria um estudante de sociologia, ou &ldquo;s&atilde;o grandes companhias auxiliando na gera&ccedil;&atilde;o de renda&rdquo;, responderia C. K. Prahalad, em entrevista recente, ou &ldquo;&eacute; uma estrat&eacute;gia de venda que d&aacute; maior capilaridade &agrave; distribui&ccedil;&atilde;o&rdquo;, diria um gerente de marketing. O fato &eacute; que o lucro das empresas que optam por este canal &eacute; diretamente proporcional ao entendimento e ao respeito que sua for&ccedil;a de vendas tem com o consumidor.</p><p>Em outras palavras e para ser pr&aacute;tico, tente responder: &eacute; melhor comprar produtos de algu&eacute;m que voc&ecirc; conhece e confia ou de um estranho? E se esse algu&eacute;m lhe oferecer o aval que s&oacute; quem &eacute; cliente pode dar? E se, al&eacute;m de te dar explica&ccedil;&otilde;es sobre como usar o produto, ainda lhe oferece cr&eacute;dito sem que voc&ecirc; tenha que deixar um cheque? Para ser perfeito, s&oacute; faltava tudo isso acontecer no conforto da sua sala, com aquele cafezinho que s&oacute; voc&ecirc; sabe fazer. Dificilmente uma visita como esta n&atilde;o resulta em pelo menos uma venda. Em fun&ccedil;&atilde;o da descontra&ccedil;&atilde;o proporcionada pelo ambiente e pela rela&ccedil;&atilde;o com a vendedora, basta abrir o mostru&aacute;rio ou cat&aacute;logo e a compra por impulso acontece. Neste caso, at&eacute; a pechincha &eacute; atenuada devido ao la&ccedil;o de amizade; o que se negocia &eacute; a forma de pagamento. Por esta &oacute;tica &eacute; f&aacute;cil entender o sucesso de um setor que movimenta 8,6 bilh&otilde;es de reais e &eacute; fonte de renda para 1,5 milh&atilde;o de pessoas.</p><p>*Luciana Aguiar e Renato Meirelles s&atilde;o s&oacute;cios-diretores do Data Popular.</p><p><em>Cerca de 60% das vendas de perfume, 75% das de maquiagem para olhos e 80% das de batom s&atilde;o feitas pela venda direta. A Avon est&aacute; no Brasil desde 1959 e tem 1 milh&atilde;o de revendedoras atuando no porta a porta. A Natura conta atualmente com 525,2 mil consultoras no Brasil, crescimento de 15,7% em refer&ecirc;ncia ao mesmo per&iacute;odo do ano passado.</em></p><p><em>Dados abaixo <br /></em><em>&bull; 1,5 milh&atilde;o &eacute; o n&uacute;mero de revendedores que atuaram em<br />vendas diretas no pa&iacute;s durante 2004. Em rela&ccedil;&atilde;o ao ano anterior,<br />a quantidade de empreendedores do ramo cresceu 20%.<br />&bull; 10,4 bilh&otilde;es de reais &eacute; o valor movimentado pelos neg&oacute;cios<br />gerados a partir das vendas diretas no pa&iacute;s. O setor registrou<br />crescimento acumulado de 27,5% no ano passado.<br />fonte: O Estado de S. Paulo, junho de 2005</em></p>