<p>Apesar de os puristas do idioma português protestarem, o uso de palavras em inglês dissemina-se tornando a comunicação uma faceta da globalização. Mesmo com oposição, já existem precedentes de idiomas híbridos como o esperanto e o papiamento – idioma falado no Caribe. E há previsões de que no futuro terá um idioma universal híbrido como no filme Código 46 em que o idioma é uma mistura de inglês, chinês e espanhol.</p> <p>Entre os adeptos do uso híbrido inglês-português estão os jovens e cool é uma das palavras preferidas deste grupo, por ser simultaneamente, significado e significante. Como significado expressa coisas, situações ou pessoas antenadas e arrojadas. Como significante seu uso expressa uma atitude contemporânea. Não o uso de uma palavra em outro idioma, mas a palavra em questão. O fato é que usar a palavra cool para os jovens é cool. E apesar das situações constrangedoras despertadas por sua sonoridade, a palavra passou também a ser utilizada pelos profissionais de marketing por sua adesão no mundo jovem.</p> <p>O advento das pesquisas e tendências baseadas nos achados dos cool hunters – os chamados caçadores de tendências – ajudou a disseminar o termo. E com isso, o jovem antenado tornou-se um profissional de pesquisa de marketing. Como não poderia deixar de ser, todo movimento possui sua contrapartida, sua antítese e, com ela, temos o advento da identificação do uncool.</p> <p>Dentre outros sites dedicados ao tema na internet, há o argentino <a target="_blank" href="http://www.theuncoolhunter.com">www.theuncoolhunter.com</a>, que define o uncool como coisas, pessoas, eventos, comportamentos e produtos – incoerentes, bizarros, kitschs, pretensiosos e malfeitos. Nas categorias analisadas, há celebridades, músicas, estilos de vida, propaganda, gadgets, moda, hábitos e por aí vai. A busca de coisas uncool é mais divertida e polêmica do que identificar produtos, pessoas, objetos e movimentos antenados. Afinal, é necessário certo descompromisso com a sociedade e grande dose de crítica, ironia e rebeldia para melhor capturar o que é desconectado.</p> <p>No meio do território uncool, há espaço para o descarte de tudo que é massificado para o mau gosto e também há espaço para o advento da vanguarda. É intrigante observar que no berço do uncool nascem movimentos pra lá de conectados com as preferências jovens. Por este motivo se sua marca busca conexão jovem, não monitore apenas o que é antenado, mas o que está na contramão das massas.</p> <p>Há coisas ultrapassadas que, simultaneamente, tornam-se cool. Dois exemplos. John Travolta foi um sucesso estrondoso no início de sua carreira nos anos 70. Depois de algumas más escolhas de filmes, tornou-se absolutamente uncool e quase desapareceu. Voltou pela mão de Quentin Tarantino para o pódio dos muito cool.</p> <p>Mas temos também um exemplo brasileiro com a ressurreição de Sidney Magal há alguns anos. Há 20 anos foi um mega sucesso das massas. Brega, mas um sucesso. Depois de anos de ostracismo, tornou-se pop há uns 3 anos e até dublou o ator Robin Williams no filme Happy Feet, o Pingüim. Amanhã, bom amanhã vai depender do quanto ele conseguirá manter-se uncool. Ou cool. Whatever…<br />  <br /> * Beth Furtado é autora dos livros "Singularidades no Varejo", "Horizontes de Consumo" e "Desejos Contemporâneos" e é sócia-diretora da <a target="_blank" href="http://www.aliasite.com.br">ALIA</a>, empresa que articula e decodifica conhecimentos, conteúdos e pesquisas e os materializa sob a forma de pensamento estratégico, novos negócios, estratégias de inovação, novos produtos, alternativas de distribuição, experiências de compras, posicionamento de marca e de comunicação, palestras e workshops. E-mail: <a href="mailto:bfurtado@aliasite.com.br">bfurtado@aliasite.com.br</a></p>