<p>Por Augusto Nascimento*<br /> <br /> A GAP americana decidiu mudar seu logotipo e anunciou o fato ao mercado. Apenas uma semana depois, um bocado de &ldquo;especialistas&rdquo; designers, blogueiros e consumidores deram a grita atrav&eacute;s da web e das m&iacute;dias sociais. O presidente da GAP ponderou e, humildemente, voltou atr&aacute;s. Fica valendo o velho e bom logo, sem as modernidades do novo. S&aacute;bio homem.<br /> <br /> <img height="165" width="399" src="/images/materias/gap_logo.jpg" alt="Por que a GAP voltou atr&aacute;s na mudan&ccedil;a do logo?" /><br /> <br /> Mas, afinal, porque cargas d&rsquo;agua da GAP havia tomado a decis&atilde;o de mudar sua logomarca, seu logotipo &ndash; por um outro supostamente mais moderno? Seria alguma raz&atilde;o ou motivo justificado, sei l&aacute;, algo como uma fus&atilde;o, por exemplo? Teria sido por algum reposicionamento de mercado? Sabe se l&aacute; &ndash; de repente a empresa sai do ramo de petr&oacute;leo e entra no neg&oacute;cio de energia e muda o nome para Petrobrax, por exemplo. Ou ent&atilde;o faz como a Vale: deixa de ser Vale do Rio Doce, copia o logo de um fabricante de cal&ccedil;ado e vai em frente.<br /> <br /> Pois parece que mudar por mudar &eacute; algo que d&aacute; de vez em quando, especialmente quando as empresas sofrem surtos de &ldquo;mudancite&rdquo;. Mas nem tudo est&aacute; perdido: o ceo da GAP teve o bom sendo de voltar atr&aacute;s e dizer publicamente: Erramos! Vamos retomar o logotipo antigo, que &eacute; valioso e ele vai continuar sendo nossa bandeira.<br /> <br /> O &ldquo;logo novo&rdquo; da GAP durou apenas sete dias, gra&ccedil;as a arquitetura de lideran&ccedil;a da GAP que teve a humildade de perceber que n&atilde;o podia errar duas vezes, que seria mudar a marca para uma pior e manter a decis&atilde;o tomada. Fico muito feliz de perceber que as culturas empresariais est&atilde;o evoluindo. Que os ceos n&atilde;o s&atilde;o apenas chefes do escrit&oacute;rio e sim pessoas com poder de voltar atr&aacute;s quando seu pessoal comete essas pequenas imbecilidades. Houve um tempo em que as culturas empresariais erram t&atilde;o ensimesmadas que esse tipo de coisa jamais ocorreria. A empresas errava e mantinha-se no erro para n&atilde;o dar o bra&ccedil;o a torcer. <br /> <br /> Fa&ccedil;o parte de um grupo mundial, BBN ou The Business Branding Network que acredita num conceito que chamamos de Tr&iacute;plice Arquitetura. A arquitetura n&uacute;mero um abrange produtos e mercados, a dois abrange marca e toda a simbologia e a tr&ecirc;s abarca as lideran&ccedil;as. Sem esta &uacute;ltima nada permanece e se solifica, pois aqueles que s&atilde;o os &ldquo;mudanceiros&rdquo; n&atilde;o resistem e sempre querem dar uma mudadinha aqui, outra ali, j&aacute; que precisam colocar seu dedo na gest&atilde;o. <br /> <br /> Eles n&atilde;o conseguem gerir nenhum projeto de Marketing sem impor seu Ego de modo muito vis&iacute;vel, pois acreditam que somente assim ser&atilde;o profissionais com um grande curr&iacute;culo para seus futuros empregadores. Os ceos est&atilde;o precisando de gerentes de Marketing e comunica&ccedil;&atilde;o mais an&ocirc;nimos e menos afeitos &agrave; &ldquo;mudancite&rdquo;. <br /> <br /> Parab&eacute;ns &agrave; GAP e a sua cultura que permite corrigir publicamente a sua pr&oacute;pria falha. E aos amantes da marca GAP, os verdadeiros co-propriet&aacute;rios da marca: fiquem tranquilos, pois as malhas e camisetas que voc&ecirc;s usam pelas ruas e shoppings centers n&atilde;o ficar&atilde;o envelhecidas e ultrapassadas t&atilde;o rapidamente. Podem usar que ainda ser&aacute; moda por bastante tempo.<br /> <br /> O presidente da GAP para a Am&eacute;rica do Norte, Marka Hansen (belo nome, n&atilde;o &ndash; um cara com esse nome nunca deveria mudar nenhuma marca…) disse claramente: &ldquo;Foi um erro n&atilde;o ter ouvido o consumidor antes de tentar mudar o logo que h&aacute; 20 anos representa a marca, reconhecida ao redor do mundo&rdquo;. E foi al&eacute;m: &ldquo;N&oacute;s aprendemos muito e hoje temos claro que n&atilde;o fizemos isso da maneira correta. Talvez no futuro chegue o momento de reformular o nosso logo, mas quando, e se, isso ocorrer, n&oacute;s vamos agir de uma outra maneira&rdquo;.<br /> <br /> Na realidade, a GAP &ndash; e todas as empresas deveriam saber que &ndash; n&atilde;o se muda uma marca da noite para o dia, impunemente. N&atilde;o se mexe na hist&oacute;ria e no patrim&ocirc;nio cultural e imag&eacute;tico das marcas sem ter motivos reais para isso sem pagar um pre&ccedil;o bem alto. Mudar &eacute; poss&iacute;vel. Evoluir &eacute; necess&aacute;rio. Mas hoje n&atilde;o se faz isso sem a cumplicidade do consumidor. Mudar da noite para o dia &eacute; uma grande besteira. E leva a esse tipo de situa&ccedil;&atilde;o que a GAP enfrentou e se saiu muito bem.<br /> <br /> Qualquer mudan&ccedil;a pode ser feita desde que se justifique e desde que os verdadeiros &ldquo;donos sociais&rdquo; da marca sejam envolvidos e sintam-se colaboradores no processo de mudan&ccedil;a. Somente quando os consumidores e quando o p&uacute;blico internos de uma marca se sente propriet&aacute;rio da mudan&ccedil;a ela pode ocorrer com sucesso e sem deixar nenhum GAP.<br /> <br /> * Augusto Nascimento &eacute; diretor da BBN BRASIL e autor do livro Os 4 Es de Marketing e Branding. </p>
Por que a GAP voltou atrás na mudança do logo?
14 de outubro de 2010