<p>Por Alberto Serrentino* <br /> <br /> Nos dias 14 e 15 de setembro foi realizada em Nova York a 17&ordf; edi&ccedil;&atilde;o da Confer&ecirc;ncia Global de Varejo, promovido pelo Goldman Sachs. O evento re&uacute;ne empresas de varejo de capital aberto, sobretudo norte-americanas, para apresentarem e discutirem com investidores e analistas resultados e perspectivas. Participam empresas como Walmart, Target, Costco, Home Depot, Macy&rsquo;s,&nbsp; Abercrombie &amp; Fitch, Staples e algumas internacionais como Walmart M&eacute;xico e o Grupo P&atilde;o de A&ccedil;&uacute;car do Brasil. <br /> <br /> <strong>Cen&aacute;rio – </strong>o momento do varejo americano n&atilde;o mudou ao longo do ano, apesar da leve recupera&ccedil;&atilde;o. O ambiente &eacute; de baixo crescimento, desemprego elevado – beirando os 10%, consumo cauteloso, perspectiva de recupera&ccedil;&atilde;o lenta e demanda orientada a valor, com consequente press&atilde;o em pre&ccedil;os e margens para o varejo. O mercado enfrentou em 2008 retra&ccedil;&atilde;o, que culminou com um p&eacute;ssimo &uacute;ltimo trimestre &ndash; ap&oacute;s a quebra do Lehman Brothers &ndash; um 2009 ruim e 2010 morno. <br /> <br /> As empresas tiveram que se adaptar a um novo mercado, o que as levou a enfatizar fortemente gest&atilde;o de custos e foco no caixa. Isso trouxe melhorias na gest&atilde;o de estoques e da cadeia de abastecimento, redu&ccedil;&atilde;o de despesas operacionais, renegocia&ccedil;&atilde;o de contratos de loca&ccedil;&atilde;o, gera&ccedil;&atilde;o de caixa e busca por retorno para acionistas. O lado positivo do cen&aacute;rio &eacute; que levou as empresas a melhoria de efici&ecirc;ncia, produtividade, estrutura de capital e liquidez, o que vem permitindo melhoria nos resultados &agrave; medida em que o consumo volta a crescer moderadamente. <br /> <br /> <strong>Expans&atilde;o -</strong> em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; expans&atilde;o, h&aacute; maior conservadorismo no mercado interno, com diversas empresas fechando lojas. De outro lado, a expans&atilde;o internacional, que tradicionalmente n&atilde;o foi foco das empresas norte-americanas, torna-se estrategicamente importante para manter perspectivas de crescimento. A Abercrombie &amp; Fitch fechou 110 lojas nos EUA, mas iniciou expans&atilde;o bem-sucedida na Europa e prev&ecirc; levar a participa&ccedil;&atilde;o dos mercados internacionais de 15% para 30% nos pr&oacute;ximos anos. <br /> <br /> J&aacute; a Office Max fechou 109 lojas nos EUA. O processo de fechamento de lojas deficit&aacute;rias ou pouco rent&aacute;veis, somado a redu&ccedil;&atilde;o de custos vem levando a bons resultados operacionais, apesar do cen&aacute;rio adverso. O foco de expans&atilde;o internacional est&aacute; na Europa e &Aacute;sia, al&eacute;m do Canad&aacute;. O Brasil come&ccedil;a a ser considerado, por&eacute;m, com menor grau de prioridade. <br /> &nbsp;<br /> <strong>Multicanais &ndash;</strong> um aspecto de converg&ecirc;ncia &eacute; o irrevers&iacute;vel avan&ccedil;o do com&eacute;rcio eletr&ocirc;nico. O Goldman Sachs projeta que o varejo online possa passar dos atuais 5% de participa&ccedil;&atilde;o no varejo dos EUA para 15% em 10 anos. A Amazon.com j&aacute; &eacute; a 2&ordf; maior empresa em valor de mercado no varejo norte-americano. A expans&atilde;o do com&eacute;rcio eletr&ocirc;nico e do varejo digital &ndash; que inclui venda por celular &ndash; representa amea&ccedil;a e oportunidade para o varejo. A amea&ccedil;a vem do grau de informa&ccedil;&atilde;o por parte dos consumidores, que pressiona adicionalmente pre&ccedil;os e margens, al&eacute;m do fantasma da Amazon.com e outros varejistas virtuais; de outro lado, o canal permite ampliar vendas e fortalecer a rela&ccedil;&atilde;o com os clientes. <br /> <br /> A JCrew realiza 30% de suas vendas via internet. O Walmart vem refor&ccedil;ando sua estrat&eacute;gia multicanal, para tornar suas lojas pontos de log&iacute;stica, p&oacute;s-venda e ampliar a experi&ecirc;ncia e servi&ccedil;o da marca. A Macy&rsquo;s j&aacute; disponibiliza visibilidade de estoque em tempo real para as lojas, que podem realizar eletronicamente a venda de produtos em ruptura ou que n&atilde;o fa&ccedil;am parte do sortimento da loja para seus clientes. <br /> <br /> <strong>O&aacute;sis no deserto &ndash;</strong> apesar do ambiente dif&iacute;cil, diversas empresas v&ecirc;m encontrando espa&ccedil;o para crescimento e resultados. As chamadas &ldquo;Dollar Stores&rdquo;, antigas lojas de pre&ccedil;o &uacute;nico, v&ecirc;m ganhando espa&ccedil;o desde o in&iacute;cio da crise econ&ocirc;mica. A Dollar Tree teve crescimento de 13% nas vendas no &uacute;ltimo ano, oferecendo conveni&ecirc;ncia, capilaridade de lojas e pre&ccedil;os baixos em produtos b&aacute;sicos de compra recorrente; analogamente, a Ross Stores, operador de vestu&aacute;rio descontos, cresceu 10,8% suas vendas, com 6% de crescimento em lojas compar&aacute;veis; a JCrew, apesar de atuar no mercado de vestu&aacute;rio premium, que vem enfrentando dificuldades, cresceu 10,5% suas vendas no &uacute;ltimo ano, sendo 3,8% em lojas compar&aacute;veis, buscando consist&ecirc;ncia em sua proposta de valor de qualidade, servi&ccedil;o e diferencia&ccedil;&atilde;o. <br /> <br /> Empresas inovadoras, como as operadoras de moda r&aacute;pida Forever 21 e Rue 21, v&ecirc;m ganhando mercado. No caso desta &uacute;ltima, o neg&oacute;cio cresceu 34% e j&aacute; opera mais de 600 lojas em strip centers e shopping Center, com previs&atilde;o de abertura de 100 lojas em 2010 e outras tantas em 2011. A marca de esporte Under Armour, que inovou no setor ao criar a categoria de underwear funcional com tecnologia, cresceu 18,1%. Ou seja, marcas e lojas bem posicionadas, com proposta de valor relevante e execu&ccedil;&atilde;o consistente, prosperam mesmo em ambiente dif&iacute;cil. O pr&oacute;prio Walmart, que foi grande benefici&aacute;rio da crise em 2008 e 2009, vem apresentando desempenho inferior ao esperado em 2010. A empresa atribui ao equivocado processo de enxugamento de sortimento, que reduziu em 20% a oferta das lojas nos EUA e afastou clientes, levando a perda de vendas. H&aacute; em curso um processo de revis&atilde;o para ajuste e resgate do foco que fez da empresa a maior companhia no mundo: pre&ccedil;os baixos todo dia e ampla oferta de produtos.<br /> <br /> <strong>O Brasil -</strong> A situa&ccedil;&atilde;o no Brasil destoa bastante do cen&aacute;rio nos EUA. O mercado de varejo deve crescer a uma taxa de dois d&iacute;gitos ente ano e pode crescer em ritmo similar pelos pr&oacute;ximos anos. As empresas est&atilde;o acelerando planos de expans&atilde;o, fus&otilde;es e aquisi&ccedil;&otilde;es multiplicam-se e as principais preocupa&ccedil;&otilde;es s&atilde;o aproveitar as oportunidades e estruturar o neg&oacute;cio para crescer de forma saud&aacute;vel, rent&aacute;vel e com qualidade. O desempenho do mercado brasileiro deve trazer, a m&eacute;dio prazo, aumento de interesse por parte de empresas norte-americanas para expans&atilde;o de neg&oacute;cios, a exemplo do que vem ocorrendo com as europ&eacute;ias. &Eacute; esperar para ver.<br /> <br /> * Alberto Serrentino &eacute; s&oacute;cio s&ecirc;nior da GS&amp;MD &ndash; Gouv&ecirc;a de Souza.</p>
O momento do varejo nos EUA.
27 de setembro de 2010