Meios digitais: diversidade atrelada à peculiaridade
Leia o artigo de Nélio Bilate
Por Redação - 09/12/2008 Artigos
<p class="titulomateria">Meios digitais: diversidade atrelada &agrave; peculiaridade</p> <p>Por N&eacute;lio Bilate*</p> <p>Tudo come&ccedil;ou por causa de uma situa&ccedil;&atilde;o aparentemente simples. Estava em Las Vegas, nos Estados Unidos, participando de um dos maiores eventos de Marketing do mundo, o DMA (Direct Marketing Association). Depois de assistir a uma palestra que realmente me chamou a aten&ccedil;&atilde;o, j&aacute; que o contexto era sobre abund&acirc;ncia versus escassez, decidi fazer um teste e tentar comprar uma (e apenas uma) unidade de um benjamim (um adaptador de tomadas). Pedi para atendente onde eu poderia encontrar a simples tomada. Como tudo nos EUA &eacute; tamanho fam&iacute;lia, com o pacote de tomada n&atilde;o foi diferente.</p> <p>N&atilde;o existia pacotes individuais. O m&iacute;nimo era um pacote com cinco. Questionei a atendente do mercado e qual n&atilde;o foi a minha surpresa quanto &agrave; resposta que ela me deu: &ldquo;Aqui nos EUA n&oacute;s prezamos pela diversidade, por isso voc&ecirc; encontra um pacote com cinco. Vai que um dia voc&ecirc; precisa&rdquo;. Se um dia eu precisar, pensei, vou a uma loja e compro outro.</p> <p>N&atilde;o seria essa a l&oacute;gica de consumo mais razo&aacute;vel? Diante desta minha hist&oacute;ria, comprovamos que n&atilde;o para os americanos. O discurso sobre diversidade me pareceu mais &ldquo;massifica&ccedil;&atilde;o de discurso&rdquo; do que consci&ecirc;ncia propriamente dita. Eram cinco benjamins, cada um com quatro buraquinhos para encaixar tomadas diferentes. &Eacute; a cultura do buraco, a diversidade do buraco.</p> <p>Este epis&oacute;dio resume bem o conceito defendido por Walter Smith, PhD em Consumo de Massa pela Universidade da Carolina do Norte, em sua palestra &ldquo;O que os consumidores querem do hoje no mercado&rdquo;. Primeiro pelo conte&uacute;do apresentado e segundo por ser a &uacute;nica, das 20 palestras que assisti, que realmente valeu a pena, que fez muita diferen&ccedil;a para mim. Smith falou sobre abund&acirc;ncia e escassez. Para ele, o consumidor hoje n&atilde;o quer mais algo que seja gen&eacute;rico, global, igual. Almeja algo inteligente, pessoal e focado. Isso &eacute; o que ele define como smarten consumption.</p> <p>A conectividade passa do global para o local, e o local &eacute; agora o novo chique. Para ele, o consumo inteligente &eacute; associado a uma mudan&ccedil;a de comportamento do consumidor. Hoje as pessoas querem algo com o que elas se identifiquem e n&atilde;o algo que as coloque como mais um no meio da multid&atilde;o. Os Estados Unidos, mestre em trabalhar a cultura de massa, se enquadra no que Smith define como o fen&ocirc;meno da abund&acirc;ncia. O pa&iacute;s sobrevive sob uma &oacute;tica pautada pelo consumo exagerado, massificado e, muitas vezes, desnecess&aacute;rio.</p> <p>Os Estados Unidos, por todo o seu hist&oacute;rico de economia forte e est&aacute;vel, acomodou-se com essa situa&ccedil;&atilde;o confort&aacute;vel e deixou de prestar aten&ccedil;&atilde;o no escasso para olhar apenas para o abundante. Isso acarretou certa fragilidade quanto a lidar com mudan&ccedil;as. O consumidor de hoje n&atilde;o &eacute; o mesmo do consumidor de alguns anos atr&aacute;s. Mas a maneira com que os EUA trabalham as suas empresas em rela&ccedil;&atilde;o aos seus clientes continua igual. Este descompasso &eacute; o que faz com que a abund&acirc;ncia americana perca espa&ccedil;o para a escassez dos pa&iacute;ses emergentes.</p> <p>Smith fala com propriedade que a sociedade de massa, liderada pelos EUA, tende a perder refer&ecirc;ncias para demais pa&iacute;ses como a China, a &Iacute;ndia, a Nova Zel&acirc;ndia e o Brasil. O mundo tem hoje uma necessidade grande de localizar. Essa localiza&ccedil;&atilde;o e especifica&ccedil;&atilde;o &eacute; o que ele chama de escassez, e esse contexto n&atilde;o se faz pelo pejorativo da palavra, mas sim, se refere ao que &eacute; mais humano e pragm&aacute;tico. Compara com o que se passa em tempos de guerra, ou seja, que pa&iacute;ses que j&aacute; passaram por dificuldades tendem a superar as crises de maneira mais criativa e r&aacute;pida. Com pouco, eles sobrevivem gra&ccedil;as a criatividade e a adapta&ccedil;&atilde;o r&aacute;pida &agrave; mudan&ccedil;a.</p> <p>Ao trazer esses conceitos para o campo da comunica&ccedil;&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel comparar com os meios digitais. O meio digital ainda &eacute; escasso apesar de todo o seu advento. Se considerarmos a popula&ccedil;&atilde;o brasileira de 180 milh&otilde;es de habitantes e o fato de que apenas cerca de um ter&ccedil;o tem acesso &agrave; internet, verificamos que ainda h&aacute; muito espa&ccedil;o para crescer. Ou seja, o que poderia parecer um problema &eacute; na verdade uma oportunidade.</p> <p>No entanto, &eacute; a diversidade dos meios digitais que acaba por torn&aacute;-lo t&atilde;o democr&aacute;tico e peculiar. N&atilde;o basta falar com as 180 milh&otilde;es de pessoas com um s&oacute; discurso. Sim, diversific&aacute;-lo, personaliz&aacute;-lo. As empresas que entenderem essa din&acirc;mica trabalhar&atilde;o para otimizar a informa&ccedil;&atilde;o de maneira direcionada. &Eacute; preciso usar comunica&ccedil;&atilde;o integrada para que a rentabilidade dos processos aumente de acordo com o que cada cliente espera. Usar da expertise de mais de uma empresa a fim de atender as expectativas dos clientes &eacute; o objetivo das holdings diferentes de comunica&ccedil;&atilde;o. Assim, ao mesmo tempo em que se t&ecirc;m variedade, &eacute; poss&iacute;vel atingir e especificar nichos de pessoas para cada meio. Sem desperd&iacute;cio.</p> <p>A comunica&ccedil;&atilde;o, a partir dessa l&oacute;gica, &eacute; direcionada, j&aacute; que quando um usu&aacute;rio faz uma busca na internet, ele identifica e foca para uma busca singular. O processo &eacute; one-to-one, cada um tem a liberdade de fazer as coisas a sua maneira. N&atilde;o h&aacute; mais limite em comunicar, &eacute; o social interagindo e se deixando aparecer. Quem fala, quem exp&otilde;e conte&uacute;do, quem o faz no escasso (e entenda-se escasso como o peculiar, o falar para um grupo espec&iacute;fico) &eacute; o mesmo quem recebe informa&ccedil;&atilde;o, quem consome. Comunica&ccedil;&atilde;o digital &eacute; agir dessa maneira, identificar nichos e trabalhar para em prol deles. Assim, permite direcionar a comunica&ccedil;&atilde;o e fazer dela uma nova maneira de relacionar pessoas e interesses. Esse &eacute; o diferencial: falar a coisa certa para as pessoas certas.&nbsp; O &ldquo;todo&rdquo; j&aacute; n&atilde;o desperta tanto interesse, j&aacute; que o peculiar nos parece muito mais atrativo.</p> <p>*N&eacute;lio Bilate &eacute; CEO da BrANDS &ndash; holding de comunica&ccedil;&atilde;o digital pertencente &agrave; Ideiasnet.</p>