Mismatch e a seleção natural Bruno Mello 6 de julho de 2020

Mismatch e a seleção natural

         

No mundo empresarial, vivemos há mais de uma década um grande mismatch. De um lado, temos as grandes corporações fortes e robustas, mas pesadas e lentas; e do outro as enxutas startups, confiantes e ágeis, mas inexperientes e apaixonadas por risco

Mismatch e a seleção natural
Publicidade

Apesar de não jogar basquete, acompanho de perto a NBA. Além de achar o esporte um dos mais dinâmicos e plásticos, a liga é um exemplo de organização privada esportiva que deu e dá certo. Basta ver o plano ousado e inovador de retomada da temporada, para perceber o quanto tiveram de ser ágeis e conciliadores, com tanta “gente grande” envolvida.

Acompanhando a liga, aprendi um conceito chamado mismatch. A tradução literal é incompatibilidade. Na prática, é quando um jogador grandão marca um jogador baixinho e vice-versa, gerando um confronto desigual. Repare: não é um confronto desequilibrado ou injusto, apenas uma disputa onde cada um tem que usar suas qualidades específicas, da melhor forma possível, para conseguir se aproveitar dessa enorme desigualdade de atributos físicos.

No mundo empresarial, vivemos há mais de uma década um grande mismatch. De um lado, temos as grandes corporações fortes e robustas, mas pesadas e lentas; e do outro as enxutas startups, confiantes e ágeis, mas inexperientes e apaixonadas por risco.

Se olharmos a evolução desta disputa nos últimos dez anos, veremos que já estava sendo vencida de lavada pelas empresas de tecnologia e internet. De acordo com o Financial Times Global 500, em 2010, as top 5 empresas em valor de mercado eram Exxon Mobil, PetroChina, Apple, BHP Billiton e Microsoft. Hoje, são Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet, Alibaba.

Agora, com a pandemia, esse mismatch passou de desigual para desleal. Enquanto umas pedem recuperação judicial, as chamadas asset lights estão com o problema inverso – lidar com um crescimento abrupto e inesperado.

Publicidade

As empresas tradicionais já vinham aumentando exponencialmente seus investimentos em tecnologia e no digital. Isso é fundamental, mas esse não é o fim e sim o meio. Diariamente, vemos startups substituindo grandes empresas ou se tornando intermediárias indesejáveis; e pode ter certeza, a explicação para isso vai muito além da tecnologia.

O escritor americano Thomas Friedman disse que “estamos em um momento em que a tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana”. E é exatamente isso! A tecnologia já avançou e está a disposição de todos. O desafio, mais do que nunca, está no entendimento dessa sociedade em mutação, no autoconhecimento e em nossa capacidade de inovação.

As startups já nascem para resolver problemas do amanhã, com uma cultura de inovação enraizada; metodologias, processos, soluções e pessoas ágeis, numa estrutura enxuta e adaptável.

Para pelo menos reequilibrar esse mismatch, as grandes corporações têm de se inspirar nesse modelo; promover urgentemente a inovação para o campo estratégico, ter coragem para tomar decisões mais arriscadas e disciplina para aplicar essa cultura em seu dia-a-dia.

Neste momento, não é isso que tenho visto… Sigo observando velhas práticas e soluções sendo apenas digitalizadas. As grandes corporações têm de reagir, precisam se redescobrir e se reinventar de verdade, senão o conceito a ser tratado nos próximos anos não será mais o do mismatch e, sim, o da seleção natural.


Publicidade