Nos dias de hoje, é comum pessoas recorrerem a cafeterias e restaurantes para conectar seus smartphones ou computadores à internet. Talvez, muitas das vezes, queiram mais um espaço para sentar e relaxar, participar de uma reunião por telefone ou finalizar um email ou uma proposta comercial do que propriamente comer e beber alguma coisa. Porém, não é bem visto permanecer num estabelecimento comercial como este por muito tempo sem consumir nada. Afinal, elas estão ocupando o tempo e o espaço da loja enquanto outros clientes querem se sentar. Daí, elas se sentem na obrigação de comprar algo apenas para adquirir o direito de permanecer no lugar, o que pode resultar numa despesa consideravelmente alta.
Foi pensando neste comportamento cada vez mais comum que uma rede russa remodelou o negócio cafeteria e inaugurou a Ziferblat. Com dez lojas no país, sendo uma na Ucrânia, a marca inaugurou, no fim do ano passado, sua primeira filial na Europa ocidental, em Londres. A loja oferece wifi, bebidas e comidas aos clientes porém, em vez de cobrar pelos produtos consumidos, cobra apenas pelo tempo que eles passarem na loja. Seria uma espécie de "pague-o-quanto-usar", em que tempo é, literalmente, dinheiro. Desta forma, as pessoas se sentem à vontade para permanecerem na cafeteria pelo tempo que desejarem. Um dos fundadores, Ivan Mitin, diz que "aqui tudo é de graça, exceto o tempo que você passa dentro da loja." Os clientes pagam £ 0,03 por minuto (R$ 0,12) - ou £ 1,8 a hora (R$ 7,20) - por comida, café e wifi ilimitados.
Funciona assim: o cliente pega um despertador ao chegar no Ziferblat, anota o horário de sua entrada e mantém o relógio em seu poder. Quando ele decide ir embora, vai ao balcão devolver o relógio e calcular o tempo de permanência na loja. Ele paga somente por isso. Não há tempo mínimo. Enquanto estiver no Ziferblat, o cliente pode comer biscoitos, frutas, vegetais e sopas instantâneas que são colocadas à disposição. Há também uma cozinha onde ele pode preparar comida ou esquentar algo que tenha levado de casa - sim, o cliente pode levar comidas e bebidas (exceto alcóolicas) para consumir no estabelecimento. Uma máquina profissional de café fica à disposição para que o cliente prepare seu próprio café ou, caso queira, peça a algum funcionário para preparar. Há também um piano para aqueles que desejarem tocar.
O grande diferencial do Ziferblat é que as pessoas não estão pagando pela consumação; pagam pelo espaço, pelo tempo e pelo lazer. Então, na verdade, é tudo sobre sua participação e envolvimento com o espaço e com as pessoas que o frequentam. As pessoas não são obrigadas a lavar sua louça, por exemplo, mas aprecia-se que o faça e, de fato, a grande maioria o faz. O espaço torna-se tão sociável que é comum ver as pessoas colaborando mutuamente neste sentido.
Toda a atmosfera remete a um espaço aconchegante e íntimo, deixando o cliente com a sensação de entrar numa sala de estar alheia num primeiro momento, mas bastante confortável e relaxado logo em seguida. É um refugio para para quem quer passar algum tempo com qualidade nas ruas agitadas da cidade grande. Funciona como um escritório durante o dia, cheio de freelancers digitando rapidamente, pessoas ao celular. À noite, pessoas passam tempo lendo, conversando com amigos ou mesmo navegando na internet. Em alguns momentos de pico fica tão cheio que é preciso controlar a entrada das pessoas.
Um dos clientes da filial londrina, Aaron Anthony-Piuai, disse "Eu gosto que a ênfase seja menos na transação de compra e venda de produtos. Não é sobre o café que comprei, mas sobre o lugar onde estou bebendo esse café".
A Ziferblat, que em russo significa mostrador do relógio, agora faz planos de expansão. Se a ideia funcionar em Londres, é provável que mais lojas da rede sejam abertas na capital inglesa e, possivelmente, em Nova Iorque. Com hostels, hotéis e cafeterias frequentemente cheias de pessoas trabalhando remotamente ou aproveitando algum tempo livre para navegar na web, não se pode dizer que falte mercado para desse tipo de negócio. O "coffice" como este hábito já foi apelidado, aponta para um caminho no futuro. Resta só saber se as pessoas estão prontas para esse novo modelo de negócio.
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